sexta-feira, 26 de novembro de 2010

orvalho em lágrimas de sangue

Levei uns minutos pensando em como iniciar as postagens deste blog. Acabei por decidir que o tom confecional ficaria mais adequado. Pequenas reminescências de mim mesmo depositadas numa folha de papel em branco. Aprecio a arte de juntar palavras e descobrir seus significados mais ocultos. Elas tem este poder de transpor horizontes e fulgurar entre os resquícios de um dia de primavera. O que sou: um semeador de estrelas. O que faço: descubro-me novo e cada vez mais fragmentado. Descobri que o vazio que assusta é uma das maneiras mais simples de buscar a felicidade completa. Não atingir, que isto já é pedir demais. Somos todos seres incompletos por negligenciar partes de nós mesmos. Pequenas partículas que formam o universo em contínua expansão de nossos anseios e aspirações. Na verdade, resolvi não desejar mais nada. Ainda tenho que aprender a esvaziar-me de mim e daquilo que sou (ou aquilo que fui, já nem sei mais), o que não é tão simples assim. A metáfora do espelho é uma de minhas favoritas. Isso porque o espelho não é apenas um reflexo. São caminhos para outros seres, outros mundos transfigurados em quem se vê refletido. E nem sempre condiz com o que esperamos dele. Ele não mente, nem ignora a verdade aparente de nossa contínua transformação. Como nos tornamos outro a cada instante, tememos o reflexo disto. Queremos ser unos, previsíveis, engaiolamos nossos palpites e os tranformamos em certezas. E desaprendemos a arte de planar pelos ares. Perdemos o rumo do abismo e tornamos rasos nossos voos. Estou sempre rodeado de incertezas. Prefiro assim mesmo, andar desconfiado. O mundo das certezas é falso, ladrilhado de dúvidas ocultas que se metamorfoseiam em trajes de gala. Ignorâncias partilhadas com certa frequência passam a ser verdades. Ninguém mais ousa interferir nelas. Mas restringem. Essas verdades prendem os olhos que não conseguem ver mais a beleza do vazio e a sedução da asa de uma borboleta (onde se esconde um universo inteiro). Prefiro a tristeza dos crepúsculos. Aos que indagem o porquê de tanto riso em minha face respondo que a vida merece que lhe sejam depositadas os melhores sentimentos. E a tristeza é irmã da alegria. Não confunda com tom melancólico. Quero a tristeza de uma melodia em pleno acorde. E o sorriso contido de uma criança ao ver um eclipse. Das pupilas de todos os seres brotam resquícios de pequenas luminárias. A junção e reconhecimento dessas luzes é que forma uma aurora todas as manhãs. Se escrevo com lágrimas de sangue é porque acredito que é assim que deve ser. A função de um escritor é essa: entregar seu sangue e sua carne para que devorem ao sabor de palavras sejam elas quais forem. O orvalho incrustado nas entrelinhas é para auxiliar na desenvoltura de um quase estilo que vou construindo aos poucos. Peço paciência ao ler estas linhas e sabedoria para perceber o espetáculo da vida por trás de cada argumento. Sem mais, por enquanto... 

Um comentário:

  1. Caro amigo ... orgulho-me em poder compartilhar tão doce e sublime texto que reflete sua alma, seus sentimentos, seus anseios neste vasto e emaranhado contexto que é nosso universo. E tenhas a plena certeza de que devorarei sim cada palavra, cada argumento que expressares aqui. Diante de tão estupendo texto que escreveste sinto-me pequeno, e impulsionado em escrever cada vez melhor. Eis aqui um aluno... e seguidor fiel deste grande amigo, amante das letras. Um grandioso abraço ...

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