sábado, 25 de junho de 2011

Pupilas e arrebatamentos passionais


Interessante uma frase de um professor de Seminário de Cultura Brasileira, que disse que nos apaixonamos durante a vida várias vezes e até com intervalos ridicularmente ínfimos. Aquele olhar por instantes e um deslumbramento involuntário que nos faz perceber outra pessoa de um jeito diferente. Não estou dizendo que todos somos promíscuos por natureza. Muito pelo contrário. Digo que, mesmo que encontremos e tenhamos ao nosso lado alguém que seja tão especial que mereça estar conosco sendo descoberto e escolhido todos os dias para continuar a alçar voos junto com a gente, não podemos fechar nossos olhos para o outro. Por isso, ciúme é a coisa mais ridícula de todas, por que indica posse, um sentimento que nada tem a ver com amor. Ao amar outra pessoa, não podemos exigir que ela pense em nós a todo instante e não olhe para os lados. Até por que olhar para os lados e até deixar-se chamar atenção por outra pessoa não significa que minutos depois estará abraçado a ela. Ciúme é uma coisa tão desligada do amor que a pessoa enciumada não percebe que, ao invés de fazer a outra perceber que ela merece ser amada, faz com que seja criada uma prisão. Amor não é prisão: é liberdade. Por que todos os dias realizamos escolhas. Todos os dias, amores em potencial aparecem, sem que o percebamos. E aquele olhar inocente, sedutor que nos arrebata e que nos faz por alguns minutos imaginar o corpo nu não é decreto da morte do amor. Outro dia você apaixonou-se por aquela(e) vizinha(o) que recém se mudou. Ou por aquele (a) conhecido(a) de sempre que viu de um jeito diferente. Será isso loucura?!Quem é que nunca se apaixonou por um(a) professor(a) na infância ou na adolescência?! Não temos controle sobre nossas emoções.Porém, basta uma palavra ou um gesto para perder-se o encanto. Paixão tem a ver com arrebatamento. Novidade. Estréia.E fenece ao sabor dos arrebatamentos repletos de tesão, dos nervos á flor da pele. Não é o mesmo que amor. É preciso muito mais que um segundo qualquer para isso. Não termina ali, depois dos corpos saciados após o banho de alívio.Alguns apaixonamentos serão curtos e, no instante ou no dia seguinte, foi- se o encanto, murcharam-se as penas do pássaro encantado(r). Amor é saber que você escolheu alguém para ficar ao lado, e que todos os dias volta a fazer a mesma escolha, sem que o diga, sem que perceba. Ciúmes são coisas de quem já deixou de amar. De quem tem medo que o outro se vá. Sem mais nem menos. Na verdade, não existem saídas inesperadas. E não é preciso convencer o outro de que você é a melhor escolha.  Liberdade e amor, quando andam de mãos dadas, fazem com que o amor seja leve e, sutilmente duradouro. Sem que percebamos, o outro está livre para ir a qualquer instante, não existem amarras para o segurar ali. Ele pode sair a qualquer momento e ir embora. A porta está aberta.E ele decide então sentar ao nosso lado, e apreciar a vista. O sol está cada dia mais alaranjado na retina dos dois... 

sábado, 28 de maio de 2011

cacos e espelhos de um desconhecido



Não entendo muito sobre o bem ou o mal. Quando nossos anseios estão em jogo, parece que o que tiver que ser feito se resume ao bem. O mal parece-nos tão longe e tão repleto de signos do desconhecido. Á s vezes, desconhecemos o fato de que o mal está em nós, alojado, feito um câncer, prestes a eclodir. Nossas ações nos direcionam para este ou para aquele caminho e uma vida repleta de felicidade vai muito além do bem e do mal. Somos seres únicos e seja lá como voce chame ( força criadora, luz intensa, fé avassaladora, Jesus Cristo), não importa. Haveremos de descobrir cedo ou tarde que não conseguimos nos desligar de Deus quando fazemos o bem. E mesmo que o esqueçamos, ele não se esquece de nós. Uma ligação profunda com o Deus único e verdadeiro e que enxuga nossas lágrimas quando os olhos e corpos fenecem gradativamente. Solidão é algo que não existe. Preciso de uma força muito forte ao meu lado, guiando meus passos, não importa quantos me digam, com suas máscaras de incredulidade , que Deus nos prova para percebermos seu amor .Se assim fosse, ele se distanciaria de nós e, desculpem o incômodo, mas hoje senti vontade de tecer linhas repletas de gratidão. Sei que estou tratandode algo difícil de ser provado empiricamente.  Não farei aqui apologia á igreja algumaa. Cada um decida a sua (até nenhuma, vale). Descobri uma frase interessantísima sobre as religiões. Melhor religião é a consciência. E que a força divina esteja com aqueles que sabem o que é o bem.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Palavras de um amor embebido em lágrimas

Queria ter lhe conhecido antes
Muito antes...
Para que nenhum de nós dois tivesse
Medos ou cicatrizes...
Queria ter estado com você
Quando seu coração descobriu
O que era AMOR
Quando seu corpo descobriu
O que era DESEJO
E antes que pudesse sofrer
Eu estaria do seu lado
Amando-lhe
Entregando-me
E juntos poder ter aprendido
As lições da vida e do coração...
Queria ter lhe conhecido muito antes
Quando suas esperanças
Começaram a nascer...
Quando seus sonhos ainda eram puros
E seus ideais ainda ingênuos...
Pena termos nos encontrado só agora
Já com o coração viciado
Em outros amores
Com uma imagem meio falsa
Do que é felicidade
Do que é entregar-se...
Queria ter lhe encontrado antes
Muito antes
Numa nova vida
Num outro tempo
Em que não precisássemos
Temer o nosso futuro
Nem nossos sentimentos...


(autor desconhecido)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O amor após o canto do cisne - Parte um



      

Encontraram-se por acaso. Uns poucos sorrisos, conversas jogadas fora e uma cumplicidade inocente de quem se deixou cativar por alguém estranho. De repente, suas vidas foram interceptadas pelo sentimento mais louco de todos. Mas não haviam percebido. As distancias tornaram-se incomensuráveis e os sorrisos consolos arrebatadores . A ausência fazia crescer o desejo de se encontrarem. Os quartos vazios, o sono solitário e as pessoas vazias que conheciam fazia aumentar mais e mais a ligação entre eles. Mas havia algo errado. Um deles era muito galinha. A cara da simulação erotizada e o sorriso cafajeste faziam levantar suspeitas sore o outro. E não ajudava muito os conselhos de conhecidos que só faziam falar mal do rapaz. Ela não sabia o que pensar. Uma pessoa  bombardeada de todos os lados por informações e propagandas não muito favoráveis daquele misterioso rapaz que parecia tão manso...não sabe bem o que pensar. Resolveu encontrá-lo assim mesmo. Seria apenas um encontro, não haveria envolvimento. O rapaz apaixonara-se desde o primeiro instante, sem o perceber. Ela conheceu a noite escura de um jeito diferente ao lado dele. Planejaram se encontrar novamente. Ela já havia percebido que cada vez mais se enamorava daquele estranho que lhe parecia cada vez mais familiar. E se viram mais uma vez. Quando finalmente ela encheu-se de coragem para declarar seu amor, ele disse que não achava oportuno dizer várias vezes que se amava alguém que soaria piegas e que esboçava falta de sinceridade. Mal sabia ele que depois seria ele a ter ímpetos  de declarar seu amor.

O amor após o canto do cisne - Parte dois

Ela silenciou.Ele falou que teria que viajar, mudar-se ir para longe, que não queria ninguém que  tocasse de verdade por perto para não correr o risco de apaixonar-se. O desligamento é muito triste, dissera-lhe ele certa vez. Então num instante após um beijo que parecia interminável, ele atirou facas afiadas no tênue fio da paixão que a cercava. Disse que da próxima vez que se vissem seria apenas como amigos. E saiu. O mundo desmoronou para aqueles dois. Lágrimas brotavam incessantemente e os lábios sentiam saudades do encontro com os lábios macios de um quase amor desfalecido. O telefone de um jazia inerte sem sinal e o dia seguinte foi o mais triste da vida dos dois desde que haviam se conhecido. Resolveu escrever. Não tinha nada a perder. Seu medo da solidão só era menor que o receio de viver sem ele, qualquer resquício que houvesse para dizer o que não havia sido dito precisava ser posto no papel. E com lágrimas de sangue,proprias de quem muito amou, escreveu:
Precisava escrever algo para você. Queria te dizer que gostei muito de te conhecer.Gostaria muito de continuar a te ver.Percebi que nada do que me disseram sobre você era verdade. Aprendi a não me deixar levar pelas aparências. Vi que o que disseram sobre você era mentira. Quero que saiba que nunca duvidei de você.Obrigado por me ensinar o verdadeiro significado do amor e da saudade. Espero que possamos continuar ao menos uma amizade. Quero você perto de mim. É uma das pessoas que mais me marcou por aqui desde que cheguei. Se você acha melhor pararmos por aqui para que não soframos depois quando você tiver que ir embora, tudo bem. Percebo com esse motivo que é o jeito que você tem de dizer que se preocupa comigo.Pra mim não vai ser difícil, já és um grande amigo e pessoas especiais são poucas as que aparecem em nossa vida. Você foi uma das que mais apreciei conhecer. Por favor, não suma. A cidade não será a mesma sem você. Desculpe te escrever isto mas precisava te falar. Não me arrependo de nada que vivi contigo. Até breve. Espero.
 
 Terminou de escrever e viu um rosto na câmera. Algumas palavras e a respiração ofegante. Alguém viria aquela noite. Alguém que queria vê-la há algum tempo. Depois de sair da frete da tela do computador ouviu o interfone foi até a janela. Hoje fazem dois meses desde que ele entrou pela porta de sua casa e arrancou-lhe o beijo mais encharcado em lágrimas que já havia recebido em toda a sua vida...Chegou a conclusão de que, se pudesse, viveria tudo novamente...
 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cacos de (des)amor

Quando os olhos jazem distantes e os pensamentos receiam a perda, a tristeza e a solidão me fazem companhia. Penso que nunca se está só tendo alguém próximo, mas se este alguém se afasta por motivos de tédio ou desilusão, não sei explicar direito o que há. Pedaços de nós mesmos deixamos pelo caminhos, escolhas que poderiam ter sido feitas, pessoas que poderiam estar ao nosso lado, por eleger uma parte mais significativa de todas. Isso se chama amor. Coisa que eu nem sei direito explicar, ele é tão instável que quando o tentarmos rotular, se esvai pelas beiradas das classificações. Amor não se define, sente-se. Talvez a distância seja necessária, pois é dela que brota a saudade. Saudade que antes já era conhecida, mas que ganha novas matizes quando estou contigo. Olhe no fundo dos meus olhos, sem distanciar os lábios dos meus. Nunca te deixaria prender pelo que sinto. Te quero livre, ao mesmo tempo em que receio que se vá um dia para o reino do nunca mais. Preciso me embriagar com urgências.Esqueci de olhar o horizonte. Mirei apenas o teu sorriso. Esqueci de mim. Vi um olhar tão profundo: é tão triste descobrir que não se pode estar sempre nos pensamentos de quem  se ama. Seria suicídio.As palavras lançadas ao véu do peito são feridas por passos sonolentos e feridas pelo olhar vazio. O amor nos torna dependentes. Daí a "importância" das pessoas frias que amarram o coração em uma caixa bem escondida.Talvez tenham apreendido a proteger seu peito de mágoas a partir do congelamento dos sentimentos. O amor nos torna mendigos carentes da presença do outro. Todos os dias desfaleço na tua ausência. A felicidade sádica consiste em descobrir que o outro tem medo de nos perder. Aí descobrimos ligações que nem sabemos possuir.Gostaria que o amor fosse repleto de liberdade, a saber que no desfalecimento do amor os braços podem se estender a outros braços e buscar a parte que não lhe foi preenchida. O receio do final imerge as lágrimas de um sorriso  dissimulador na face dos amantes. Descobri então com  o tempo que é o amor que me fortalece. E se o telefone emudecer algum dia e os passos não virem em minha direção, haverão sempre tristes entardeceres crepusculares para partilhar minha dor. O tempo, este sim, quero utilizar da melhor forma possível, para que não venha se esvair por entre os dedos da banalidade. Minha vida poderia ter sido outra. Houveram escolhas. Descobri que faria tudo de novo... Não abro mão de sentir com intensidade o máximo de vida que ainda houver em mim, para que não me acusem de esconder o que eu era, se algum dia vier a mudar . Ainda bem que existem as estrelas. E o por do sol. Tenho que lembrar que para gostar de alguém não posso esquecer de alimentar os mais puros sentimentos em relação a mim mesmo. Que o meu amor cuide de mim e, quando não puder, eu estarei ali, com os braços abertos e mãos prontas para recolher os cacos que, de vez em quando, deixo cair pelo caminho...


sexta-feira, 29 de abril de 2011

Marcas de um amor lembrado...

Amaram-se desde a infância do primeiro beijo. Guardavam um pedaço do outro em si e o amor revelava-se cada vez mais intenso. Haviam apreendido o significado real do verdadeiro amor, da confiança e da saudade. Descobriram que, antes de terem se conhecido, nunca haviam amado de verdade. As pessoas à sua volta tentavam minar o amor dos dois, que ia se fortalecendo quanto mais pedras em direção a eles fossem atiradas. Haviam pessoas que desejavam um ou outro e, ao invés de torcer pela união dos dois, queriam mesmo era que fossem separados, para que fossem saciados os desejos  de outrem. Como naquela cidade os namoros não duravam muito, o natural seria que aqueles que não tiveram a felicidade de querer tanto alguém que não houvesse o mínimo desejo de encontrar outras pessoas, olhasse com olhos desconfiados algum sentimento sincero que por lá se fizesse aparecer. Denunciaram encontrar traições para um, flertavam o outro e o casal mais certeza tinha de seu sentimento. Certa vez, antes de começar uma festa, disseram  haver encontrado o namorado naquele lugar. Outros tentavam colocá-los a prova. Convidavam um para sair, ameaçavam outro de que seu amor não duraria, pois este não tinha capacidade de amar (justamente os mesmo que não tinham cultivado o amor verdadeiro o julgavam). Ele acreditou que iriam se separar. As pedras eram muitas e as facas desferiam golpes múltiplos nos ouvidos do coração daquela que amava e as pessoas à sua volta não pareciam se importar. A crueldade parece ser uma característica coletiva que vai se fortalecendo, quando várias pessoas têm um objetivo em comum. No caso, gostariam de realizar o desejo, que não duraria mais do que uma noite, com aquela que ele havia escolhido para viver ao seu lado. Ao final e depois de muitas risadas (os amantes, além de amigos, eram confidentes ) acerca de todas as interceptações frustradas, pareciam estar em paz. Mesmo que dissessem algo sobre o outro, haviam aprendido que a confiança estabelece fios que conduzem a chave para um relacionamento sincero e transparente. Aprenderam a acreditar na verdadeira essência do outro, uma que somente havia sido apresentada a ambos, no inicio da primeira nudez,aquela que os outros nao conheciam e/ou ignoravam. E ele teve que viajar. Os dias se arrastavam e as mensagens eram frequentes. O amor pode muito bem estabelecer contatos pela linguagem das lágrimas. E aprenderam que quando se gosta muito do outro, a saudade se faz presente. "Saudade, não saber o que fazer com dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor do silêncio que nada preenche."(Martha Medeiros) E, até que houvesse retornado, presenteou aquela que ficaria sem ele por um longo período para os dois com um livro "A menina e o pássaro encantado". (Não vou me perder em contar a resenha. Quem quiser saber do que se trata, que arranje um para si. ). Apenas antecipo dizendo que havia uma menina e um pássaro que ela muito amava e que , todas as vezes que ele ia embora deixava um aperto no peito bem descrito pela martha medeiros ai em cima. Então, ela resolve fazer algo para ter o pássaro sempre consigo. Após a leitura, brotaram da face muitas lágrimas e, como se o outro distante houvesse pre-sentido, também se lhe brotaram águas sinuosas de olhos saudosos de uma joia preciosa distante. Ainda estão juntos. Não sabem até quando, mas aprenderam a contar os dias, um a um. Não importa mais o tempo que possa durar. Haverão olhos de saudade quando tiverem partido e uma caixa repleta de lembranças de um amor que foi estendendo aos poucos os braços para a etern(a)idade...


quinta-feira, 28 de abril de 2011

reticências da vida...



E porque ria com frequência, acharam que fosse garoto de programa. O sorriso, para aquelas pessoas vulgares, nada mais era do que uma porta aberta para o flerte, uma sugestão de enunciados libidinosos inspirando saciar o prazer em outro local mais apropriado. E ele nem desconfiava. Os encontros que marcava eram diferentes dos habituais. Procurava ser romântico. Levava para passear ao luar, recitava poesias e cantava músicas que lhe fizessem sentido. E acreditaram que ele fosse sedutor demais, oportunista. Ele, mesmo não acreditando que pudessem pensar algo assim, preservou as mesmas atitudes. Algumas das pessoas com as quais saíra, apenas deitara a face em seu colo e fizera carinho até adormecer. Outras, mostrara a exuberancia do por do sol em meio ao silêncio que tanto amava. E por tentar revelar sua essência, cada vez mais distorciam sua imagem. Diziam-no aproveitador, um leão em busca de uma presa que lhe saciasse os ímpetos carnais. Um dia ficou triste, foi quando começou a amar.E para proteger aquela que amava, reagia não revelando o sentimento que sentia para outras pessoas. E por amar demais deixou-se enclausurar para que não ferissem o seu amor. Aos poucos, descobriu que as pessoas ferem umas as outras sem motivo aparente e que teria que conviver com isso. Passou a achar engraçada aquela situação. Achou desolador o fato de não poder namorar ninguém, pois os inquisidores faziam questão de dizer "quem ele realmente era" para quem quer que ele saísse. Não tentava se explicar, apenas pensara em abandonar as pessoas que amava e murchar seu sorriso sempre em floração.  Um dia um amigo, destes que tiram do poço enquanto outros ditos amigos ajudaram a colocar lá, defendeu-o das acusações sem que ele soubesse. E outro fez a mesma coisa. A essência dele que julgara perdida, incompreendida, eles haviam conhecido. Ficou muito feliz em saber que havia alguem que o conhecia de verdade, para quem não deveria explicar-se. Disseram que as pessoas, quando não são muito felizes, tentam minar o sorriso dos outros. Não sabia o que havia feito, sempre fora atencioso e fizera de tudo para que quem estivesse ao seu redor se sentisse bem. Algumas pessoas não querem se sentir bem. Quando se é amigo de verdade, não se cria ficção para justificar a desilusão com as atitudes dos outros. Resolveu viajar. Retornaria em breve, com uma roupagem nova, despido das mediocridades. Descobriu que tinha pessoas que o conheciam bem e que, para isso, não prercisava dizer nada. Apenas um olhar seu, e saberiam decifrar a linguagem da sinceridade. Descobriu que se importar com os outros não é defeito algum e que ao invés de entristecer, o que devemos fazer frente a alguma situação inesperada é se render ao silêncio e um passeio com os pés no chão. Os horizontes da vida são muito extensos para se importar com as pedras do caminho. Elas podem muito bem estar ali para sentar-se nelas e apreciar a paisagem...


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Devaneios

Aos poucos um muro foi tomando conta de mim. Á minha volta, um silêncio ensurdecedor e uma vontade imensa de... Os tijolos aos poucos foram se fazendo contornar, primeiro minúsculos,depois,grandes castelos, fortalezas de duras realidades impregnadas de frieza. O meu mundo foi se restringindo aos poucos ao que restava do muro em minha direção. Aos poucos uns olhares pelas frestas dos tijolos me lembravam que havia vida do outro lado e eu ali estava, sozinho. Construí uma cabana com asas de pássaro ferido e as janelas cobri com o bico dos beija-flores jazidos sem corpo do lado de lá. Ouvia o barulho dos concretos impondo sua majestosa presença. E aos poucos os risos infantis silenciaram cada vez mais. Percebia que quanto mais os ruidos lá do outro lado do muro se tornavam frios e modernamente tecnológicos, os do meu lado eram silenciosamente luminosos. Aos poucos as cigarras faziam conserto para que eu acordasse, as libélulas esvoaçavam suas asas desfazendo-se em lençois, como uma espécie de agradecimento por não haver construído nenhum arranha-céu que  interceptasse-lhes o voo. Os beija-flores catavam os bicos de seus ancestrais num velório continuo em minha janela. E as rosas e as tulipas amanheciam entardeceres de sorrisos. Construi uma rede, assoviei uma canção, fiz um café com as maçãs que um pessegueiro insistiu em fazer surgir em homenagem a uma macieira já desfalecida. As maçãs tinham gosto de pêssego. Os bicos dos pássaros desfizeram-se. Sumiram as flores. E as cigarras. E as libélulas.  Percebi que tudo havia se impregnado e constituia agora a superfície do meu corpo. Peguei uma árvore e caminhei em direção ao muro, nada mais haveria de me separar (junto com a natureza que agora fazia parte de mim) do que estava no outro lado. Quando bati o tronco da árvore pela segunda vez no muro, percebi que estava em meio a uma multidão numa rua repleta de semáforos, carros e prédios. Ao meu lado construiam um muro. Fui em direção a ele e não enxerguei ninguém do outro lado. Quis ir para lá. Pela primeira vez depois de haver acordado, senti saudades daquela cabana atrás do muro...



sábado, 16 de abril de 2011

email ao final de um sorriso breve...

...acabei de ler teu recado, ainda não chegou o final de semana, as lágrimas ainda insitem em brotar de meus olhos e o sorriso tende a não ser tão intenso quanto antes. Estou me embriangando de afazeres para tentar reconhecer nossa atual situação. Amigos. É tão forte isso, não acho que seja tão simples, mas é o melhor a fazer. Obrigado por ter aparecido. Com certeza, a cidade tornou-se melhor com a tua vinda. Ainda sorriremos muito juntos, algumas sessões de cinema nos aguardam e uns passeios que faço questão de fazer contigo. Pessoas especiais não se desligam assim do nada, não. Ainda vai ter que me aturar, rsrs. Adorei ter te conhecido, não sumo não, pessoa do olhar cativante e do cheiro mais doce. E ainda vou querer ouvir este sotaque que eu adoro tanto... Nunca deveria ter se desculpado pelo recado, foi a primeira coisa que vi de relevante em minha caixa de mensagens cheia de coisas banais. Te gosto muito, preservarei você ao meu lado enquanto for e ainda depois, pois quando a gente considera muito uma pessoa, devemos guardar com carinho em uma caixa aberta, como um pássaro livre que sempre volta... Anda tenho muitas pessoas para te apresentar ( algumas muito mais legais que eu), e umas dicas pra te passar também , rsrs Pra lembrar de mim é muito fácil, é só olhar o sol ao entardecer. No final de semana eu passarei aí e seremos outros, diferentes. Manteremos uma ligação forte, típica daqueles que muito se amaram. Amaremos um ao outro de outra forma a partir de agora. De um jeito mais suave, sem beijos nem carícias. Os únicos carinhos se resumirão a um abraço sincero e forte, daqueles de quebrar os ossos. Corações partidos, resta-nos a contemplação do olhar do outro. Ainda estou  na tarefa de ajuntar os cacos, quando os haver reunido jogarei os restos ao luar. A luz do crepúsculo só fará tornarmos forte na gente aquilo que um dia nos uniu para reformular a união. Te quero por perto por muito tempo, ainda haveremos de lembrar sorrindo dessa nossas lembranças do que não foi e poderia ter sido, não fosse o acaso a nos separar. Ele que nos separou e talvez nos sentiremos mais unidos que nunca na nova situação. Obrigado por existir. Quando de minhas lágrimas brotarem sorrisos, te encontro novamente...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saudades do que não existe mais...



"De todo amor que eu tenho, metade foi tu quem me deu(...) sorrindo e fazendo o meu  eu.(...) Se queres partir, ir embora, me olha daonde estiver, que eu vou te mostrar que eu to pronta, me colha madura do pé." Ouvi outro dia estas palavras adocicadas por uma voz de veludo. Trata-se de uma homenagem de uma intérprete à sua ama. Parei para escutar e a voz, as palavras foram aos poucos me arrebatando para o mundo das pessoas queridas que vamos perdendo aos poucos. Minha avó morreu há mais de quinze anos e minha mãe traz no rosto as marcas expressivas da saudade de quem ainda revive os instantes de ternura em torno do fogão á lenha e o colo da infância. Eu trago comigo pedaços de meu pai que foram -se incrustando no peito tal qual diamante inquebrável, a me acompanhar em suas lembranças nas coisas que faço. Um pouco do olhar saudoso das coisas que amamos permanecem conosco e este tempo em que nos lembramos não pode ser contabilizado com a mesma agressividade dos segundos que esvaem-se na ampulheta temporal. E isso nos faz tão bem. Essa tristeza crepuscular que nos acompanha, tal qual um poeta que disse uma vez, quem foi que nos cativou de tal modo a termos olhos de despedida em tudo o que fazemos? Somos eternos "despedidores". Nossos dias vão fenecendo com o passar dos anos e nos resta uma esperança (ou esperança nenhuma) de que um dia possamos retornar para junto daqueles que amamos. Aprecio a filosofia budista de estilo de vida. Mas não poderia me privar de conversas altas ou festas no final de semana. Gosto de saber que, se eu não tiver muito tempo de realizar tudo o que desejo nessa vida, haverão outras. Acho interessante a solidariedade dos evangélicos, mas não estou disposto a chamar todos á minha volta de irmãos, afinal, até hoje a única mulher que recordo a parir filhos em escalas de milhares foi Eva, o que provavelmente deve ter algo a ver com sua constituição (o barro deve ter algum ingrediente afrodisíaco para o super-esperma de Adão e como já se sabe, pararam há muitos séculos a produção em série de mulheres de barro).Aos católicos admiro e muito, mas tal como as outras faces de pintar o rosto de Cristo, ás vezes equivocam-se em fazer crer pela repetição dos locais de devoção que talvez Deus esteja somente ali. O meu Deus não existiria, pois ele até que nem é tão forte. Um Deus quase humano que chora comigo quando estou triste, o Deus de Alberto Caeiro que me mostra quão bonitas as pedras podem ser quando as temos nas mãos e que me abraça de vez em quando. Perguntaram por que ainda sorrio. Não sei bem . "A rosa não tem porquês, floresce porque floresce", disse uma vez Angelus Silésius. Ás vezes acho que se eu parar para pensar no porquê de sorrir, paro imediatamente. Algumas coisas nos entristecem e muito frequentemente sem que percebamos. O que seria de nós sem  socorro das coisas que não existem. As pessoas palpáveis, vivas, nos fazem de vez em quando sentir saudade das que já se foram.  Por estarem as segundas repletas de sorrisos eternalizados em instantes que jamais se repetirão. De vez em quando dá uma vontade de dormir e sonhar com o mundo em que as pessoas não nos deixam com o passar dos anos. Pode ser apenas devaneio...Enquanto isso, vamos amadurecendo com  a saudade e a distância intransponíveis até que fiquemos prontos para colher do pé de que fomos plantados. Espero que haja tempo para o brote e que os pássaros tenham tempo de trazer a semente de  novos dias para os que virão depois de nós. E que possamos ter alguém para olhar para o nosso jardim com olhos de saudades...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Um cemitério de amores



Sofro desde a inconsciência de pressentir a dor. Meus amores são assim uma coisa com prazo de término. As soilidões multiplicam-se cada vez que abro a porta e encontro a calçada vazia, a grama verde sem passos e a rua sem marcas de pneus dissolvidos em marcas tão profundas quanto a ausência que se acentua com a partida. Outro dia li este termo que dá nome a este texto. De início, pareceu-me macabro, cheio de odores putreficantes e maus agouros de palavras secas e sórdidas. Olhei para o meu corpo no espelho. Pareceu- me que ainda estava vivo o suficiente para dizer que amei de verdade. Os anos passam seguindo uma ordem cruel de separação. As pessoas que amo, algumas foram arrancadas de mim sem que eu fosse avisado de sua partida. E os olhos jazem solitários pelas ruas a esperar por algo que nem sei se vai retornar, ansiando por uma parte de mim mesmo que se ausentou... Percebi que de amores às vezes restam apenas ossos. Ossos que precisam ser adubados, colhidos, lavados e plantados em algum jardim para que lhes cresçam vísceras e pele.  Cada amor insepulto em mim é uma ferida aberta que observo todos os dias, cuidando para que não cicatrize. Podemos alimentar receios de não viver algo tão puro e intenso quanto o instante que nós sepultamos em num túmulo  aberto que visitamos com frequência, sem a coragem de dizer o adeus definitivo. Tornamos nossa vida um cemitério de amores. As solidões vêmm somar-se ao silêncio e a tristeza espera em cada parte do quarto. Não haverão de pisar a grama verde, nem bater á nossa porta. Algumas ressureições simpesmente não ocorrem. Visite de vez em quando seu cemitério de amores. Todos temos um dentro de nós. Mas não esqueça de que fechados os portões, exauridas as recordações algozes deve-se enterrar os ossos no jardim mais rico de sementes e regá-los bem. O que restam, ao final de tudo, são mesmo os ossos. Mas eles podem brotar novamente como a vida que você insiste em esquecer. Muito além da grama verde e das portas vazias...

sexta-feira, 25 de março de 2011

sobre os verdes e aquosos contornos de si

Entre os verdes e folhas de outono em pleno verão, descobri que as folhas adormecem ao cair, porque antes estavam lá verdes, vistosas, como um olhar que eu conheci. Há pouco tempo atrás, observava uns troncos robustos de uma floresta. De repente, percebi que eles aos poucos foram se enrolando aos meus braços. Os galhos unidos às minhas veias, a copa brotando em meus cabelos e as flores e os frutos confundindo-se em meus lábios e contornos de meu rosto. Vi ao longe um tapete de raízes explêndidas e uma montanha exuberante estendendo seus braços no horizonte com seus picos exibicionistas. Uma das folhas saiu de uma das árvores da montanha para acariciar minha face e foi se incrustando em meus olhos, esverdeando meus sentidos. Tornei-me verde e aquoso. Um penhasco pegajosamente líquido, um bosque desbravadoramente provocante, os olhos repletos de lagos de águas cristalinas. Então, um sábia veio pousar em meu ombro. Já não são mais ombros, transformaram-se em galhos de jequitibás. De vez em quando uma cachoeira passava onde antes eram minhas pernas. Olho atentamente com meu olhar de lago e percebo que onde antes havia a floresta, há agora um menino, guri que eu conhecia de espelhos e cacos atrás. Ele me observa ora atento, ora distraído a floresta que tem diante de si.  De repente, os galhos, luzes e cachoeiras vão aparecendo em seu corpo.Ao final, vejo à minha frente apenas o bosque de antes. Restaram-me os rios e essa alma de cachoeira que chove dentro de mim. Sei que já fui verde e aquoso. De vez em quando um sábia vem fazer ninho em meus ombros...


Sobre a (ins) piração ...

Uma folha cai de um quadro sobre uma página em branco e reclama seu lugar. O muro desfaz-se em signos, o caminho se faz rumor nos calçados do viajante. E o poeta sem saber o que escrever... Um delicado lírio suspira e a brisa ora derruba a caneta ora esconde-se entre os cabelos tal qual criança travessa. A moldura desprende-se do quadro recusando-se a delimitar espaços, cansada de criar prisões e gaiolas. E o poeta distraído não percebe que aí tem motivos de sobra para a mais tenra poesia...Os contornos da sala causam labirínticas sensações e a procura da poesia encerra-se no ato de deixar cair a caneta que jaz repleta de tinta, sangue banhado de imagensque reclamam seu lugar no papel para depois recolherem-se indignadas à moldura que as libertou. O poeta apenas sorri. Já tem a inspiração necessária. Lança- lhes um olhar de ternura. Ele escreveu em sua carne um texto que viverá consigo para não desprender-se dele jamais...

sobre os ecos e as vozes da sede

Um menino tem fome...Perdido em meio a um lugar desprovido de sensibilidade, anda pelas ruas esfarrapado e triste...ninguém o observa. Procura algo que sacie o vazio da crueldade de não haverem sentido suas ânsias escancaradamente expostas. Passam pessoas a todo momento. Não olham para a criança abandonada, de olhos lacrimejantes reclamando seu direito de suprir uma necessidade com uma intensidade tamanha e o que faz é apenas chorar baixinho. Até que aparece um poeta. O menino diz que tem fome. O poeta entrega-lhe o prato. As bordas são deliciosamente contempladas. Aquele prato é diferente de todos os que já lhe ofereceram. Observa  a comida delicadamente espalhada na superfície que até sente pena de devorar. Mas o seu interior fala mais alto, algo dentro de si reclama o preenchimento. O vazio do guri vai ficando repleto até a borda. Ele vai tornando-se outro aos poucos, aparece uma nova consciência de si e do mundo á sua volta. Timidamente agradece o poeta. Não tem mais fome. Apenas uma sede inesgotável de algo que não sabe definir direito. E dirigem-se a um restaurante repleto de pratos dos mais variados sabores.Ele dirige-se hesitante até a porta. Entra em estado de contemplação e inicia  o ato de devorar cada ingrediente para depois misturá-lo a outros. Descobre temperos novos que antes eram seus e que não sabia trazer consigo. Deixa aos poucos a timidez, amadurece a cada instante. Agradece ao poeta. Sai com um prato em mãos a procurar outro menino carente sedento do alimento pleno que tem em mãos. E sai pelas ruas sorrindo a lembrar que no encontro com algumas páginas desconhecidas tornou-se um leitor ciente da existência do mundo das palavras ... palavras que aos poucos vão entranhando na carne até tornarem-se um só com aqueles que as acariciarem com os olhos e lábios amantes...

quarta-feira, 23 de março de 2011

lágrimas em retratos e lembranças...

E onde será que você está agora?... Olhou a foto muitas vezes. Receou que as lágrimas maculassem o rosto que tinha na frente de seus olhos, opacos, envoltos na penumbra distância que os separavam. Queria poder rasgar aquela prova de amor. Queria  poder sair dali gritando o refrão de uma música que ouvira há pouco "To indo embora...vou ver o mundo lá fora...Se tá sofrendo agora chora". Mas quem  chora é você.Ao longe uma música triste parece traduzir o vazio em suas mãos. Um pequeno papel pode ter um poder enorme de fazer ressurgirem instantes. Pequenos fragmentos delicados que se vão tecendo a sua retina. Os lábios umedecidos com o sabor do último beijo e você não entende como podem estar tão distantes. Sai da sala e vai para o quarto. A cama desarumada indica um resquicio de amor realizado. Realizados os desejos, resta somente um silencio apenas cortado por um barulho que você não sabe defnir direito. Caminha até a porta. No corredor, jazem os passos deixados pelo vento.E você inveja  a brisa que deixou um beijo nos lábios do rosto que agora você tem em mãos. Na foto, somente os dois. Mais nada. Sente saudades.Vai até o portão. Olha o caminho que tantas vezes você mesmo trilhou para ir receber aquele rosto que você achou que conhecesse. Estava enganado. Da pessoa que amou, resta apenas uma foto, um retrato do mais perfeito vazio.Ouve um barulho dentro de casa. Esconde a foto. Aquele mesmo rosto vem em sua direção, mas você não pode abraçá-lo. Os lábios vêm ao seu encontro. O olhar triste de alguém que é apenas um resquício de lembrança, um nada luminoso se apagando aos poucos. Então você olha para fora. As bordas de um sombreado abaixo de sua cintura vão delimitando um quadro a seu redor. E um rosto, aquele mesmo rosto que você viu antes agora está enorme olhando para você. Não consegue se mexer. Imobilizado até sentir uma gota na retina esquerda que vai se estandendo e correndo pela  face. Só agora você percebe que as mãos que seguram o quadro em que você está tremulam um pouco. E é você quem não está ali. Perdido num lugar distante, você pode estar olhando para a mesma foto. Ao seu lado não há mais ninguém. Apenas um rasgo de algo decepado pela tesoura...

estranheidades

Contornou as ruas com seus passos frágeis. Indicou caminhos aos passantes, coloriu o verde dos musgos  com a retina. Incrustou um brilho nos olhos opacos das mulheres. Fez careta para as crianças de colo na parada de ônibus. Devaneou horizontes sombrios para as tartarugas que nadavam sem saber o destino putrefacional que viria. Escutou o canto do canário antes que este fosse acertado pelo guri que mirava o estilingue no peito no instannte do sibemol, tão apertadoramente ligado quanto o suspiro do último canto. Admirou os cisnes no outono, ansiosos em exalar o último canto nas narinas auriculares banais dos cotidianos que os circundavam. Enamorou-se de um quadro com uma moça que lhe sorria ironica e sarcástica. Olhou com desprezo a guria que comprava o último celular que vinha trazendo no colo. (Isso mesmo, o último modelo é que leva o dono para casa e não o contrário). Avistou televisões que jogavam água nos expectatores após uma matéria na praia no noticiário local. Uma cena de novela em que a empregada da trama delicadamente passava a quem tivesse assitindo de dentro do aparelho um lenço de papel. Viu um sol se por ao contrário, sob sua cabeça. E uma fumaça saindo do chão de uma das chamines de uma árvore dstante. Descobriu que tudo estivera de cabeça para baixo. Aprendera a caminhar pelo lado avesso. As pessoas lhe acenavam, outras desmaiavam, outras nem ligavam, que isso devia ser coisa de algum Houdini ressurgido. Andava pela copa das árvores. Ligava a frigideira e os ovos lhe caiam na cara. Cortava grama e estando de cabeça para baixo ainda tinha tempo de aparar algumas nuvens aqui e ali. Até que um dia começou a levitar; levitar; até seus pés tocarem alguma superf]ície que ele nem sabia o que era. Sentiu o pesado cheiro da grama molhada e as águas caudalosas de uma enchente o levaram embora até uma cabana. Nunca mais saiu dali. Uns poucos o viram de vez em quando ensaiar alguns passos no teto em vão. Faz anos que não dorme. Não quer perder a oportunidade de voltar a sentir a liberdade de voar. Ás vezes sente-se leve. Amanhã vai cair no sono devagar até o abismo mais profundo... E os cisnes haverão de cantar a melodia mais triste, como no dia em que ele esteve num quarto de hospital  acompanhado de um zumbido fraco num aparelho ao seu lado...


segunda-feira, 7 de março de 2011

Contornando os mares entre as nuvens de um rosto imperceptível...

Pela janela do avião as nuvens que antes jaziam inertes ao nossos olhos terrestres tomam contornos definidos pelas janelas dos sonhos que a pupila do passageiro traz consigo. Ao voar entre cada pedaço de pluma esbranquiçado (ás vezes tão levemente pesado) percebemos o quanto acentua-se em nós o reconhecimento de nossa pequenez. Vejo rios, montanhas e casas formiguinhamente expostas ao longe encobertos pelo ar que encontra os ventos róseos das distrações. Estar entre as nuvens é uma situação inexplicável. Sentir o fino algodão próximo destraídamente ir expandindo os braços em direção á pupila em estado de encantamento é a mais pura tradução de leveza. Enormes blocos de paisagens avistam-se no horizonte. Há um mar espahando sua espuma entre devaneios e tons reveladores de um vazio tão profundo...De vez em quando elas separam-se (essas coisinhas flutuantes que costumam chamar de nuvens e que eu chamo de moradas dos sonhos, junto com o mar e o crepúsculo). Elas formam figuras tão volúveis quanto a imaginação puder destacar. Nos rios e contornos de cada olhar se confudem as visões nubladas repletas de cerração  das visões dos que contemplam. Nos resta apenas meditar. Levitar ao sabor do vento é uma experiência única. Um dia, conheci um guri que embarcou numa aeronave metamorfoseada em nuvem.  Neste instante da transformação completa, ele aos poucos esquece as máscaras de oxigênio, as poltornas flutuantes e se deixa levar na imensidão do mar azul.Até aterissar sem saber onde está. Ao desembarcar daquela nuvem percebe uma rocha  próxima que lhe parece familiar. E, antes de acordar consegue ver um rosto com as linhas de expressão misturadas a uma névoa espessa. Vai até os olhos, move as pálpebras, desenha com as mãos o contorno dos lábios e deita-se ao lado das bochechas, formando com a pele um travesseiro. Adormece até algo que parece ser uma manhã. Vai então aos poucos acordando e então resolve, sem a interferência das brumas de outrora reconhecer o rosto. Consegue perceber que o tempo todo deitou sobre a superfície de um espelho. No chão inerte, sem os contornos da noite nublada, jaz um espelho. Apenas o reflexo de seu rosto expandido sobre a superfície daquela montanha...



Quando as portas da gaiola jazem abertas...

Nunca entendi direito as regras da hospitalidade. Nem o modo como algumas pessoas simplesmente se prendem a detalhes insignificantes para as pessoas em geral, mas que para elas tem a maior relevância. Somos expulsos deste mundo particular sem quaquer receio. Nosso reles corpo mortal não se encaixa nos padrões napoleônicos individuais de determinadas pessoas. Quem foi que criou a madita primeira impressão?! E a máxima ingenuidade acontece quando nos prendemos a esta.Por que podemos nos enganar. O pior é que num mundo regido pelo individualismo e centralizado nos egocêntricos valores reducionistas das impressões imediatas não há lugar para a tolerância com o diferente de nossas percepções.Somos reféns do imoral. Porém, as pessoas deveriam se preocupar com a repercussão de seus atos. Criança travessa que sou ás vezes esqueço. Jogo bola na vidraça do egoísmo enclausurado de algumas pessoas.Elas não estão acostumadas com a simplicidade.Regras são um jeito (in)falível de acreditar que a vida pode ser medidas de acordo com algumas pesagens individuais de conduta. Um dia fui visitar um amigo. Há tempos que não nos falávamos. E uma conversa desinteressada ao telefone pode alimentar falsas esperanças sobre o outro. A convivência é uma pedra jogada no teto de vidro das aparências. Enquanto conversávamos na sala do apartamento, um conhecido em comum tocou o interfone. Alguém tinha que descer para abrir a porta do térreo que estava trancada. Eu fui sem relutar, sem perceber que havia quebrado uma das regras particulares do anfitrião. Foi meu erro mais grave. No mundo daquele homem, sendo ele dono do apartamento, somente ele poderia atender a porta. Ficou chateado com um detalhe que para mim parecia tão insignificante. Pessoas com muitas regras são frágeis. Não suportam ficar á beira de um abismo. O desconhecido as assusta. A vida tem que ser previsível, engaiolada, restrita. Não se permitem voos altos, nem mais profundos. Fico triste quando encontro pessoas assim. Prender -se em gaiolas é o jeito mais fácil de desconfiar da porta aberta e recear o desconhecido selvagem que reside em cada um. Algumas pessoas, vivem assim mesmo, preferindo metamorfosear-se de águias em meras galinhas domesticáveis...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fadas no Divã

Somos todos repletos de mosaicos de sonhos. As histórias que gostamos de ouvir num eterno repetir se tornam partes de nós. Em algumas comunidades africanas, o conto oral é realizado á noite, que é onde habitam os mistérios da Terra e dos homens. A sedução das fadas e do fantástico nos arrebatam para um mundo repleto de finais felizes. Mesmo sabendo que a vida não é tão cheia de finais assim, nos deixamos levar. A impressão do que somos passa pela consciência da bagagem que levamos e das histórias que nos formam. Todos temos contornos pelo corpo acentuados pelo que vivemos, pensamos, imaginamos. Coloquemos as fadas no divã e perguntemos o porquê de nosso fascínio...Talvez seja por que nos transportamos para o mundo ideal e a beleza de um lugar aonde as coisas se acertam afinal nos traz consolo para uma vida não tão acertada assim. A ficção é importante neste processo de nos transportar para outras dimensões. E a dimensão mais profunda é a de si mesmo. De repente adormecidos por bem menos de cem anos nós cavalgamos em direção á torre em que prenderam quem realmente somos. E temos receio de sentir sensações que ignoramos existir sem saber exatamente por quê. E lágrimas são amarradas contra a vontade até que das idéias abandonadas na torre nasçam tranças das mais reluzentes, pensamentos ansiando pela liberdade. Então, ogros, gigantes e madrastas cruéis nos lembram algumas pessoas que nos dizem que não se pode voar. Tal qual um pásssaro preso em uma gaiola atada com um barbante, nos desesperamos. De repente, vem um flautista e toca uma melodia suave, própria para adormecer os dragões de nossa incredulidade.Ao invés de pricesas encantadas ou príncipes galopantes, temos a nossa mais tenra essência, a caixa de pandora com aquilo que perdemos ou escondemos com medo de que fosse frágil demais para sobreviver num desfiladeiro repleto de tempestades e espinhos chamado vida real. Re-descobri a minha parte escondida numa pequena concha. E o barulho do mar que veio de dentro, me lembrou que a minha felicidade pode estar embutida nas pequenas coisas banais que ás vezes ignoro, como uma pequena e delicada a flor a brotar de um muro coberto de musgo. E que em meio a tempestades é possivel escutar o som que vem do abismo de mim mesmo.E terei então a aurora de novos dias repleta de meios sorrisos e contempleções do belo re-surgido a cada dia. Não entendo muito de histórias. Sei que todos somos um labirinto repleto delas. No dia em que encontrar as fadas quero agradecer por terem inventado a ficção. Em dias sombrios é preciso lembrar de seres míticos que acreditam que novas histórias merecem ser contadas para fazer brotar na alma das crianças um novo riso e irrigar a alma com a lágrima da inocência. Que eu não perca a curiosidade e o encantamento das coisas que me comoveram. E que você leitor esteja pronto para admitir que enquanto criança tem muito a escutar com outras crianças. Uma de minhas melhores amigas é uma criança de oitenta e dois anos...



domingo, 27 de fevereiro de 2011

os contornos de um rosto temporal

O relógio é um objeto fascinante. Têm a precisão de marcar a morte dos segundos e o enterro dos minutos. As horas demoram um pouco mais para fenecer. E o fazem aos poucos, nem por isso escapando da ampulheta temporal. Pensei outro dia que todos temos algum instante que gostaríamos que congelasse, perdurando além do que os minutos banais diários podem fazer esvair. Eis o relógio como carrasco agindo na velocidade de um carro de fórmula um.E de vez em quando ele é sádico, pois queríamos que o instante de uma briga,de uma lágrima, de um rosto desfigurado em dor não durasse muito mais que alguns minutos. Na verdade eles duram, mas são tão pesados que a bigorna de Chronos parece existir para nos castigar de algo que nem sabemos direito explicar. Então os ponteiros se arrastam. O relógio nos tira do sério. Tornamo-nos seus inimigos até que aconteça algo que valha cada segundo.Algo como uma eterna despedida que não se realiza. Já dizia um poeta "Quem foi que nos tocou desse modo a ponto de termos esse olhar de despedida em tudo o que fazemos". Vejo um casal abraçado, compartilhando a linguagem do amor (que é diferente da linguagem do tempo). Pra os amantes não há tempo de esgotar as carícias, os olhares, os beijos, os silêncios. Cada segundo vale o tempo que durar.Tradução da linguagem dos corpos: Não me deixe. Fique mais um pouco. Espere. Olhando um casal de amantes ou de algumas crianças brincando num parque desejo que os relógios inteiros sejam quebrados e o tempo seja sequestrado para poder viver aquele instante um pouco mais.Diante do crepúsculo os minutos cedem um pouco. É preciso contemplar com calma, sem pressa.E também tem a ver com uma despedida. Toda despedida é metáfora da morte, do adeus definitivo. Os braços vão aos poucos se soltando e os lábios dos amantes vão deixando os lábios do outro.Até que reste apenas uma saudade de um tempo que foi para estender seus braços na eternidade temporal das recordações. Lembramos com frequencia das coisas que amamos. Amamos nossas lembranças por que elas vão aos poucos constituindo o desenho de nosso rosto.Nossas linhas de expressão são marcadas pelo passar dos anos e das coisas que vivemos. As rugas da alma se medem pela intensidade com que o fazemos. Podemos não congelar o instante. Mas para torná-lo inesquecível é uma questão de usufruir de nosso tempo. Tempo este que relógio algum pode medir...




sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cartas de amor rasgadas..



Haviam se conhecido desde a infância do amor dos dois. Foram separados muito cedo e cultivavam entre  si este sentimento nobre que os aproximava cada vez mais. Ambos esperavam que  o casamento do outro terminasse para que pudessem enfim concretizar seu desejo íntimo. A vida havia sido cruel, os casais haviam durado além do previsto. A felicidade jazia nas cartas que enviavam um para o outro na esperança de tornar  o amor indissolúvel pelas areias do tempo carrasco. E eternizaram o instante do encontro inicial. Nunca haviam se beijado senão em sonhos. À fragilidade das lembranças amarravam por uma linha tênue que insistia em alimentar o coração com metáforas e poesias de amor eterno. Enamoravam-se à distância. Um deles estava sempre viajando. Mandava postais de todos os lugares com declarações de instantes que teriam sido completos apenas com a companhia do outro. O outro vivia recluso.Suas companhias eram as palavras que vinham sempre de madrugada e eram atiradas pela janela com o  cheiro do perfume característico do lugar que o outro havia visitado. Sentir o aroma do amante distante, as carícias que brotavam das linhas; imaginar a respiração ofegante do outro ao segurar a carta; a apreensão e expectativa do primeiro e sentirem-se próximos pelo que não haviam vivido. Guardavam lembranças de um mundo inexistente que crescia dentro dos dois como um pássaro privado do voo. Queriam poder voar ao sabor do vento doce  e levitar ao som dos passos de uma primavera grávida de auroras e crepúsculos extasiados de um não-sei -o-que que os haveria de completar no re-encontro.Um dia ambos ficaram sozinhos. E marcaram o encontro que iria uni-los de uma vez só. Poderiam sair das sepulturas que os casamentos indesejados lhe haviam imposto. Encontraram-se  ao por do sol. E o espetáculo era tão belo que desejaram que nunca houvesse terminado. Pela manhã, abraçados, revelaram um ao outro o seu íntimo. As coisas que esperavam do outro, os anseios e expectativas para o futuro breve numa velhice feliz que teriam juntos. De repente, se deram conta de uma coisa. Aquele ser ali á sua frente não era a pessoa que amavam. Ela jazia em algum lugar do passado sepultada junto com as cartas de amor. Retornam a suas casas. As cartas foram rasgadas. Nunca mais se viram desde então.Preferiram viver ao lado do objeto que tanto amavam guardado apenas na lembrança e nas recordações do que poderia ter sido...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sobre o tato e as fragilidades ...


Descobri uma doença curiosa. Uma síndrome. Síndrome como se sabe é o nome que os cientistas dão às doenças que não  entendem direito. Então, eles as reunem em cachos, em conjuntos de sintomas, para parecer que tem o controle. Síndromes são doenças de respeito, levam o nome do cientista que as descobriu. Pois a donça que desccobri é a Síndrome de Nagali. Os indivíduos portadores (quando se tem uma síndrome deixam de ser pessoas comuns, passam a ser indivíduos) caracterizam-se pela ausência total de digitais. Diz a wikipédia:
Além da falta das impressões digitais as pessoas portadoras da síndrome costumam ter unhas, dentes e cabelos mais frágeis e a pele apresenta manchas marrons irregulares pelo corpo. No caso de indivíduos saudáveis que perdem as digitais com o passar do tempo (acidentes, problemas biológicos associados ao clima e contato com produtos químicos) a identificação é feita pelos dedos maiores dos pés ou pela arcada dentária. A alternativa mais viável para reconhecimento é a biometria onde dispositivos eletrônicos identificam o formato do rosto e da íris – únicos em cada pessoa. Até aí tudo bem(?!). O que me assustou foi o fato de que, sem as  digitais, as pessoas portadoras (quer dizer, indivíduos portadores) passam a ser impossibilitados de segurar um copo, por exemplo, ou folhear livros. Fiquei  apavorado após descobrir a última impossibilidade. Faço amor  com os livros quando leio. Tal qual uma namorada gosto de os folhear descompromissado, sozinho no quarto escondido, enquanto as palavras me acariciam de leve. Não imagino-me deixando outro folhear por mim. Imagine você namorando enquanto você fala com  a sua namorada e,  ao invés de você tocá-la, é outro que faz isso enquanto vocês tratam de intimidades. Com meus livros não aceito Ménage a troi. Acho que tenho mais ciumes de meus livros que de qualquer outra coisa. Não poder tocá-los sob ameaça de deixá-los cair e espatifar as narrativas em pleno tapete me seria muito triste.Nem quis saber da tal de biometria. Me assusta pensar que tenho que ter meu rosto identificado por aparelhos eletronicos para voltar a ter tato com as coisas que amo. Os autores que amo conhecem meu rosto. Vivem em comum-união comigo. Cada vez que leio Camus, Alberto Caeiro, Willliam Blake, Adélia Prado, Mario Quintana, não preciso que dispositivo eletrônico algum identifique meu rosto Ele se confunde com as páginas que leio e me torno algo que os livros bem sabem e que não conto a ninguém. É uma intimidade que só eles podem conhecer. Somos amantes. Mas se eu não tiver digitais, como vou poder tocá-los. Estarão frágeis (ou estaremos nós?) . Estaremos distantes como a ilha de Saramago  no "Conto da ilha Desconhecida". Por não poder tocar e sentir a superfície, não chegaremos mais ao fundo de nossas essências. Nos perderemos no abismo de nossa falta de intimidade e nos recolheremos ao vazio do mundo das pessoas desprovidas de tato. Aí constatei uma coisa muito mais triste. O mundo está cheio de pessoas que não querem sentir nada. Possuem digitais, mas se escondem sob as luvas da dissimulação. Decidem não se aproximar por medo da partida definitiva. E se privam das marcas significativas que poderiam somar a suas vivências. Existe tanto vazio pelas ruas, tantas fragilidades nos cabelos da alma dos transeuntes. De vez em quando percebo uma mão tímida que tenta sair debaixo da luva das camadas que criamos para nos defender dos sofrimentos que os outros podem nos causar. Esquecemos de uma coisa essencial. Nos falta tato. Mas as digitais não nos impedem de tocar os outros.Os outros temos ao longe. O pior de tudo  é esquecer de folhear as páginas de si. Perdemos aos poucos, sem perceber a capacidade de tocar a nós mesmos. Contra isso, não há biometria que nos salve...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lembranças de um dialeto repleto de sotaques e nuances...





Chegando lá você encontra gente estranha e desconhecida. O ar é inespirável. Os fôlegos antecipam o teor de apreensão que pode tomar conta de você até que comece a se soltar para conhecer algumas pessoas. Sorrisos tímidos contidos na  única pergunta que resume nossa surpresa: de onde você veio? Sim, todos viemos de mundos diferentes, de lugares que não se comunicavam e de repente estamos ali, naquele lugar. Sem que nos demos conta, estaremos conhecendo pedaços de nós mesmos. Como nunca te encontrei antes? A gente é tão parecido... Sim, as distancias podem separar almas irmãs, sorrisos à espera do abraço do outro, braços à espera de uma nova canção que fale dos mistérios da separação daqueles que tinham o outro em si sem ter ciência disto.E sem que houvéssemos percebido o mundo desconhecido nos parece familiar. E a multidão de rostos sem face transfigura-se em sorrisos e somos arrebatados para aonde queríamos poder ficar a vida inteira. Restarão lembranças das festas, dos beijos, encontros às escuras e conversas jogadas fora (as jogadas fora são as que ficam, irônica-mente) e a mistura de sotaques, linguas diferentes falando o mesmo idioma, da proximidade. O ônibus disseminando risadas gostosas e sonos compartilhados em um quase sorriso. E, depois de muitas festas e muitas partilhas de vida e espaços, temos esse olhar de despedida. É preciso um olhar de adeus em tudo o que fazemos. Não pela possibilidade de morte, mas para viver cada átimo de segundo, cada resquício de eternidade. Para durar o instante e um pouco mais. Com certeza este ficará na lembrança. Aos meus queridos amigos e conhecidos de  I ELAEL (encontro latino americano dos estudantes de letras ), fica um forte abraço e a certeza de que encontraremos novamente no olhar e nas recordações. Até nos virmos novamente, uma saudade gostosa e a certeza de que é essa saudade que torna encantadas as pessoas. Da próxima vez que nos virmos, estaremos ainda mais bonitos, porque nos haveremos de alimentar nossas almas com os resquícios de um pouco de cada um que encontramos, para nos preenchermos com os ecos de um vazio crepuscular a beira do abismo de nos mesmos...

sobre pragas e dissimulações...

Entrei em uma selva iluminada e encontrei silêncios ensurdecedores e sussurros gritantes de algum animal a espera. Era apenas um mosquito.Se sentia sozinho. Pediu que eu deixasse ele me picar. Estava com sede. Precisava extrair de mim um pouco do sangue que  era minha fonte vital de energia. Sou doador de sangue há alguns anos.Podia saciar aquele ser insignificante. Deixei o vampiro mosquito beber alguns glóbulos (em certo momento nem sei mais que cor eles tinham, por causa da quantidade que ele sugava de mim). O mosquito começou a crescer e eu a enfraquecer. Então, puxei o braço com força. Ele havia crescido muito enquanto se alimentava e havia se tornado um ser de tamanho fenomenal. De repente, como não podia mais alimentar-se por mais que tentasse, pois eu relutava em deixar, ele explodiu. E transformou-se em milhares de mosquitos que vieram em minha direção. Acordei repleto de sinais de alergia. Havia esquecido de usar o repelente.Fiquei pensando que algumas pessoas são assim como mosquitos. sugadores de uma energia que não possuem. Simplesmente por não se darem o direito de acreditar em si mesmas. Carecem do outro. Todos os dias. Sou doador de esperanças. Semeador de estrelas. Só que se me apareceu um receio. E quando eu precisar, haverão doadores para abastecer minha face esgotada?As pessoas me perguntam o porquê de eu rir com tanta frequência. Não é verdade. sorrio apenas quando tenho vontade e com a maior transparência. Para que o riso chegue com a maior intensidade a todos que o virem. Pode fazer toda diferença na vida de alguém. Pena que escassos os sorrisos, sobrem apenas repelentes nas mãos de alguns dos que ofereci partes de mim quando haviam quase fenecido sob o peso das dificuldades. As verdadeiras pragas são os dissimuladores.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

sobre abismos, amigos e farois


Encontrei o espelho de um sorriso meu há poucas horas de viagem atrás. Nos falávamos pela net há algum tempo e descobri que podemos encontrar na rede fria de relacionamentos algumas pessoas inestimáveis. Que podem vir a se tornar partes de você mesmo.é o caso do Leandro de Porto Alegre. Demorei para encontrara alguém que risse das catástrofes que nos acontecem no cotidiano. Achei que fosse só eu. Afinal, quando se está fadado a cair num poço, poucos são os que não reclamam da vida. Eu uso a experiência para treinar um pouco de rapel. Aprendi a sorrir em meio às dificuldades.(tipo a dificuldade de saber se aqui tem crase ou não), para que meu sorriso seja farol, um sinal luminoso que faça com que me encontrem mesmo em meio ao abismo.Para chamar a atenção de quem estiver perto. Se perguntarem: Caiu aí? Eu respondo que vim só curtir  a vista.Estava quente aí em cima.Aqui é umido e fresquinho.Ora, num dos dias em que cai num poço (e a vida também é uma sucessão de poços intermináveis, tudo depende do modo como você encara as coisas), o Leandro estava por perto. E não só viu  meu sorriso como retribuiu com um riso suave (ora debochado, como só ele sabe fazer, do tipo que não ofende). Minha maior felicidade é encontrar pessoas que certificam minha tese de que é possível confiar nas pessoas e encontrar pessoas muito especiais pelo caminho, que fazem você esquece das mediocridades da vida. Ora, o Leandro não jogou a corda para que eu subisse. Fez algo inusitado. Jogou duas cordas. Amarrou-as bem forte numa pedra enorme que havia por ali e soltou seu corpo no abismo do poço. Do meu lado, com um sorriso no rosto, começou a escalar junto comigo. Escalamos juntos o poço feito crianças. Quando saímos não havia pedra alguma. Percebi que quando sorríamos, dentro do poço, a corda ia ficando mais forte.  não sei aonde ele esteve este tempo todo. Amigos de verdade as vezes aparecem do nada.Aumentou em mim o desejo de um abraço Foi o que deixei com ele antes de partir e um sorriso de dentes escancarados, que ele retribuiu a seu modo. Não sei se o que vi foram resquícios de uma lágrima em seu olhar. Ou se eram os meus olhos que estavam marejados. Só tenho uma certeza. Quando ele estiver no poço, eu terei comigo a corda mais forte. Em meio aos abismos é possível encontrar morangos no meio do caminho e colher os frutos de sorrisos desfeitos em uma luz de farol. E se uma lágrima brotar na face por descuido, haverá a lembrança daquele abraço apertado e sincero de um dia que poderia ter sido ruim até trazer surpresas desfeitas em um riso calmo e suave, agora gravido de saudades...

Entre a vida e a ficção

Tantas coisas passam pela nossa mente quando temos um logo período de espera pela frente. É o álibi perfeito para o devaneio. Escrevo para (des)construir as imagens que vão aparecendo uma após a outra em sentidos esquizofrênicos. Não se trata de por as coisas em ordem, pois a vida não segue uma ordem definitiva. Exceto a certeza de nascer e morrer, que acontecem nessa sequência a menos que você seja Benjamin Button, claro, mas aí é ficção. Não sei direito quando a vida deixa de ser palpável para se tornar ficcional. Alguns fatos e acontecimentos inusitados poderiam render algumas tramas bem excêntricas.Não tenho competência para escrever romances. Prefiro as crônicas, que vão direto ao ponto.Porque então não escrever?Afinal todos temos histórias fabulosas e vivências inesgotáveis. Por que não escrevemos? Por alimentar nossa pequenez diante dos imortais da academia. Que nem sempre foram imortais. Alguns nem desconfiavam que se tornariam.E assim a vida vai se misturando à ficção incessantemente, sem que percebamos. De vez em quando, acontecem umas coisas assim muito estranhas, engraçadas, exdruxulas, sem explicação (não necessariamente nesta ordem).Algo como perder o avião que você comprou passagem quatro meses atrás por que a empresa simplesmente resolveu trocar de terminal sem levar em conta os desavisados que  que não residem na cidade do dito aeroporto. Então, quando você vai pedir restituição do valor do dinheiro daquela promoção miraculosamente inexplicável, ele não pode ser devolvido, por ser ínfimo demais.(Uma ironia das grandes para lembrar que você deve sempre carregar consigo o telefone da mãe Diná para o caso de o avião trocar de terminal e então você saber ao menos com antecedência mínima antes do voo.Então suas férias que começaram maravilhosamente bem (excetuando o roubo da semana passada em que lhe levaram pouco mais de 600 reais, ironicamente o valor da nova passagem aérea que você poderia comprar na alta temporada) começam a mudar de figura. Você está quase desistindo da viagem quando lembra que já comprou a passagem aérea, reservou, quitou, estes sinônimos que resumem apenas quatro meses de expectativa. Você pode esperar mais um pouco, não é? Claro que não! Juntando as forças que lhe restam a solução mais rápida e eficaz parece ser ir até a loja mais próxima e comprar uma corda para laçar a cauda do avião (sem taxas adicionais de voo, deixando pra lá a lei da gravidade e a possibilidade de ser engolido e estraçalhado pelas turbinas da aeronave). Então surge um amigo. Sem corda nas mãos para sugerir que você vá de ônibus. Claro, como não havia pensado nisso. Você pega o primeiro metrô do aeroporto para a rodoviária e compra a passagem. Depois de um tempo, olha para o bilhete. Serão indescritíveis 26 horas em um ônibus da cor que você menos simpatiza,  (algo do tipo, bem amarelo). E não é só isso, haverá uma conexão. Você não sabia que ônibus também fazia conexão, sorri amarelo e entra no transporte. Ironicamete, o motorista deseja uma boa viagem, lembrando das 26 horas até o destino, um dia apenas e duas horas a mais, as ditas duas horas que levaria para ir de avião. A próxima aquisição não será mais uma corda e sim uma barraca, para o caso de você ter que acampar no aeroporto para voltar em duas horas, claro. E se ameaçarem trocar de terminal, seja o primeiro a ir para o outro terminal antes da empresa, para não haver perigo de atraso. As 26 horas então terminaram. E isso é só o relato de uma ficção. Ou não. Pode acontecer com qualquer um. Talvez valha a pena ser narrado.Agora, dêem-me licença que o ônibus acabou de chegar...