sexta-feira, 29 de abril de 2011

Marcas de um amor lembrado...

Amaram-se desde a infância do primeiro beijo. Guardavam um pedaço do outro em si e o amor revelava-se cada vez mais intenso. Haviam apreendido o significado real do verdadeiro amor, da confiança e da saudade. Descobriram que, antes de terem se conhecido, nunca haviam amado de verdade. As pessoas à sua volta tentavam minar o amor dos dois, que ia se fortalecendo quanto mais pedras em direção a eles fossem atiradas. Haviam pessoas que desejavam um ou outro e, ao invés de torcer pela união dos dois, queriam mesmo era que fossem separados, para que fossem saciados os desejos  de outrem. Como naquela cidade os namoros não duravam muito, o natural seria que aqueles que não tiveram a felicidade de querer tanto alguém que não houvesse o mínimo desejo de encontrar outras pessoas, olhasse com olhos desconfiados algum sentimento sincero que por lá se fizesse aparecer. Denunciaram encontrar traições para um, flertavam o outro e o casal mais certeza tinha de seu sentimento. Certa vez, antes de começar uma festa, disseram  haver encontrado o namorado naquele lugar. Outros tentavam colocá-los a prova. Convidavam um para sair, ameaçavam outro de que seu amor não duraria, pois este não tinha capacidade de amar (justamente os mesmo que não tinham cultivado o amor verdadeiro o julgavam). Ele acreditou que iriam se separar. As pedras eram muitas e as facas desferiam golpes múltiplos nos ouvidos do coração daquela que amava e as pessoas à sua volta não pareciam se importar. A crueldade parece ser uma característica coletiva que vai se fortalecendo, quando várias pessoas têm um objetivo em comum. No caso, gostariam de realizar o desejo, que não duraria mais do que uma noite, com aquela que ele havia escolhido para viver ao seu lado. Ao final e depois de muitas risadas (os amantes, além de amigos, eram confidentes ) acerca de todas as interceptações frustradas, pareciam estar em paz. Mesmo que dissessem algo sobre o outro, haviam aprendido que a confiança estabelece fios que conduzem a chave para um relacionamento sincero e transparente. Aprenderam a acreditar na verdadeira essência do outro, uma que somente havia sido apresentada a ambos, no inicio da primeira nudez,aquela que os outros nao conheciam e/ou ignoravam. E ele teve que viajar. Os dias se arrastavam e as mensagens eram frequentes. O amor pode muito bem estabelecer contatos pela linguagem das lágrimas. E aprenderam que quando se gosta muito do outro, a saudade se faz presente. "Saudade, não saber o que fazer com dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor do silêncio que nada preenche."(Martha Medeiros) E, até que houvesse retornado, presenteou aquela que ficaria sem ele por um longo período para os dois com um livro "A menina e o pássaro encantado". (Não vou me perder em contar a resenha. Quem quiser saber do que se trata, que arranje um para si. ). Apenas antecipo dizendo que havia uma menina e um pássaro que ela muito amava e que , todas as vezes que ele ia embora deixava um aperto no peito bem descrito pela martha medeiros ai em cima. Então, ela resolve fazer algo para ter o pássaro sempre consigo. Após a leitura, brotaram da face muitas lágrimas e, como se o outro distante houvesse pre-sentido, também se lhe brotaram águas sinuosas de olhos saudosos de uma joia preciosa distante. Ainda estão juntos. Não sabem até quando, mas aprenderam a contar os dias, um a um. Não importa mais o tempo que possa durar. Haverão olhos de saudade quando tiverem partido e uma caixa repleta de lembranças de um amor que foi estendendo aos poucos os braços para a etern(a)idade...


quinta-feira, 28 de abril de 2011

reticências da vida...



E porque ria com frequência, acharam que fosse garoto de programa. O sorriso, para aquelas pessoas vulgares, nada mais era do que uma porta aberta para o flerte, uma sugestão de enunciados libidinosos inspirando saciar o prazer em outro local mais apropriado. E ele nem desconfiava. Os encontros que marcava eram diferentes dos habituais. Procurava ser romântico. Levava para passear ao luar, recitava poesias e cantava músicas que lhe fizessem sentido. E acreditaram que ele fosse sedutor demais, oportunista. Ele, mesmo não acreditando que pudessem pensar algo assim, preservou as mesmas atitudes. Algumas das pessoas com as quais saíra, apenas deitara a face em seu colo e fizera carinho até adormecer. Outras, mostrara a exuberancia do por do sol em meio ao silêncio que tanto amava. E por tentar revelar sua essência, cada vez mais distorciam sua imagem. Diziam-no aproveitador, um leão em busca de uma presa que lhe saciasse os ímpetos carnais. Um dia ficou triste, foi quando começou a amar.E para proteger aquela que amava, reagia não revelando o sentimento que sentia para outras pessoas. E por amar demais deixou-se enclausurar para que não ferissem o seu amor. Aos poucos, descobriu que as pessoas ferem umas as outras sem motivo aparente e que teria que conviver com isso. Passou a achar engraçada aquela situação. Achou desolador o fato de não poder namorar ninguém, pois os inquisidores faziam questão de dizer "quem ele realmente era" para quem quer que ele saísse. Não tentava se explicar, apenas pensara em abandonar as pessoas que amava e murchar seu sorriso sempre em floração.  Um dia um amigo, destes que tiram do poço enquanto outros ditos amigos ajudaram a colocar lá, defendeu-o das acusações sem que ele soubesse. E outro fez a mesma coisa. A essência dele que julgara perdida, incompreendida, eles haviam conhecido. Ficou muito feliz em saber que havia alguem que o conhecia de verdade, para quem não deveria explicar-se. Disseram que as pessoas, quando não são muito felizes, tentam minar o sorriso dos outros. Não sabia o que havia feito, sempre fora atencioso e fizera de tudo para que quem estivesse ao seu redor se sentisse bem. Algumas pessoas não querem se sentir bem. Quando se é amigo de verdade, não se cria ficção para justificar a desilusão com as atitudes dos outros. Resolveu viajar. Retornaria em breve, com uma roupagem nova, despido das mediocridades. Descobriu que tinha pessoas que o conheciam bem e que, para isso, não prercisava dizer nada. Apenas um olhar seu, e saberiam decifrar a linguagem da sinceridade. Descobriu que se importar com os outros não é defeito algum e que ao invés de entristecer, o que devemos fazer frente a alguma situação inesperada é se render ao silêncio e um passeio com os pés no chão. Os horizontes da vida são muito extensos para se importar com as pedras do caminho. Elas podem muito bem estar ali para sentar-se nelas e apreciar a paisagem...


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Devaneios

Aos poucos um muro foi tomando conta de mim. Á minha volta, um silêncio ensurdecedor e uma vontade imensa de... Os tijolos aos poucos foram se fazendo contornar, primeiro minúsculos,depois,grandes castelos, fortalezas de duras realidades impregnadas de frieza. O meu mundo foi se restringindo aos poucos ao que restava do muro em minha direção. Aos poucos uns olhares pelas frestas dos tijolos me lembravam que havia vida do outro lado e eu ali estava, sozinho. Construí uma cabana com asas de pássaro ferido e as janelas cobri com o bico dos beija-flores jazidos sem corpo do lado de lá. Ouvia o barulho dos concretos impondo sua majestosa presença. E aos poucos os risos infantis silenciaram cada vez mais. Percebia que quanto mais os ruidos lá do outro lado do muro se tornavam frios e modernamente tecnológicos, os do meu lado eram silenciosamente luminosos. Aos poucos as cigarras faziam conserto para que eu acordasse, as libélulas esvoaçavam suas asas desfazendo-se em lençois, como uma espécie de agradecimento por não haver construído nenhum arranha-céu que  interceptasse-lhes o voo. Os beija-flores catavam os bicos de seus ancestrais num velório continuo em minha janela. E as rosas e as tulipas amanheciam entardeceres de sorrisos. Construi uma rede, assoviei uma canção, fiz um café com as maçãs que um pessegueiro insistiu em fazer surgir em homenagem a uma macieira já desfalecida. As maçãs tinham gosto de pêssego. Os bicos dos pássaros desfizeram-se. Sumiram as flores. E as cigarras. E as libélulas.  Percebi que tudo havia se impregnado e constituia agora a superfície do meu corpo. Peguei uma árvore e caminhei em direção ao muro, nada mais haveria de me separar (junto com a natureza que agora fazia parte de mim) do que estava no outro lado. Quando bati o tronco da árvore pela segunda vez no muro, percebi que estava em meio a uma multidão numa rua repleta de semáforos, carros e prédios. Ao meu lado construiam um muro. Fui em direção a ele e não enxerguei ninguém do outro lado. Quis ir para lá. Pela primeira vez depois de haver acordado, senti saudades daquela cabana atrás do muro...



sábado, 16 de abril de 2011

email ao final de um sorriso breve...

...acabei de ler teu recado, ainda não chegou o final de semana, as lágrimas ainda insitem em brotar de meus olhos e o sorriso tende a não ser tão intenso quanto antes. Estou me embriangando de afazeres para tentar reconhecer nossa atual situação. Amigos. É tão forte isso, não acho que seja tão simples, mas é o melhor a fazer. Obrigado por ter aparecido. Com certeza, a cidade tornou-se melhor com a tua vinda. Ainda sorriremos muito juntos, algumas sessões de cinema nos aguardam e uns passeios que faço questão de fazer contigo. Pessoas especiais não se desligam assim do nada, não. Ainda vai ter que me aturar, rsrs. Adorei ter te conhecido, não sumo não, pessoa do olhar cativante e do cheiro mais doce. E ainda vou querer ouvir este sotaque que eu adoro tanto... Nunca deveria ter se desculpado pelo recado, foi a primeira coisa que vi de relevante em minha caixa de mensagens cheia de coisas banais. Te gosto muito, preservarei você ao meu lado enquanto for e ainda depois, pois quando a gente considera muito uma pessoa, devemos guardar com carinho em uma caixa aberta, como um pássaro livre que sempre volta... Anda tenho muitas pessoas para te apresentar ( algumas muito mais legais que eu), e umas dicas pra te passar também , rsrs Pra lembrar de mim é muito fácil, é só olhar o sol ao entardecer. No final de semana eu passarei aí e seremos outros, diferentes. Manteremos uma ligação forte, típica daqueles que muito se amaram. Amaremos um ao outro de outra forma a partir de agora. De um jeito mais suave, sem beijos nem carícias. Os únicos carinhos se resumirão a um abraço sincero e forte, daqueles de quebrar os ossos. Corações partidos, resta-nos a contemplação do olhar do outro. Ainda estou  na tarefa de ajuntar os cacos, quando os haver reunido jogarei os restos ao luar. A luz do crepúsculo só fará tornarmos forte na gente aquilo que um dia nos uniu para reformular a união. Te quero por perto por muito tempo, ainda haveremos de lembrar sorrindo dessa nossas lembranças do que não foi e poderia ter sido, não fosse o acaso a nos separar. Ele que nos separou e talvez nos sentiremos mais unidos que nunca na nova situação. Obrigado por existir. Quando de minhas lágrimas brotarem sorrisos, te encontro novamente...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saudades do que não existe mais...



"De todo amor que eu tenho, metade foi tu quem me deu(...) sorrindo e fazendo o meu  eu.(...) Se queres partir, ir embora, me olha daonde estiver, que eu vou te mostrar que eu to pronta, me colha madura do pé." Ouvi outro dia estas palavras adocicadas por uma voz de veludo. Trata-se de uma homenagem de uma intérprete à sua ama. Parei para escutar e a voz, as palavras foram aos poucos me arrebatando para o mundo das pessoas queridas que vamos perdendo aos poucos. Minha avó morreu há mais de quinze anos e minha mãe traz no rosto as marcas expressivas da saudade de quem ainda revive os instantes de ternura em torno do fogão á lenha e o colo da infância. Eu trago comigo pedaços de meu pai que foram -se incrustando no peito tal qual diamante inquebrável, a me acompanhar em suas lembranças nas coisas que faço. Um pouco do olhar saudoso das coisas que amamos permanecem conosco e este tempo em que nos lembramos não pode ser contabilizado com a mesma agressividade dos segundos que esvaem-se na ampulheta temporal. E isso nos faz tão bem. Essa tristeza crepuscular que nos acompanha, tal qual um poeta que disse uma vez, quem foi que nos cativou de tal modo a termos olhos de despedida em tudo o que fazemos? Somos eternos "despedidores". Nossos dias vão fenecendo com o passar dos anos e nos resta uma esperança (ou esperança nenhuma) de que um dia possamos retornar para junto daqueles que amamos. Aprecio a filosofia budista de estilo de vida. Mas não poderia me privar de conversas altas ou festas no final de semana. Gosto de saber que, se eu não tiver muito tempo de realizar tudo o que desejo nessa vida, haverão outras. Acho interessante a solidariedade dos evangélicos, mas não estou disposto a chamar todos á minha volta de irmãos, afinal, até hoje a única mulher que recordo a parir filhos em escalas de milhares foi Eva, o que provavelmente deve ter algo a ver com sua constituição (o barro deve ter algum ingrediente afrodisíaco para o super-esperma de Adão e como já se sabe, pararam há muitos séculos a produção em série de mulheres de barro).Aos católicos admiro e muito, mas tal como as outras faces de pintar o rosto de Cristo, ás vezes equivocam-se em fazer crer pela repetição dos locais de devoção que talvez Deus esteja somente ali. O meu Deus não existiria, pois ele até que nem é tão forte. Um Deus quase humano que chora comigo quando estou triste, o Deus de Alberto Caeiro que me mostra quão bonitas as pedras podem ser quando as temos nas mãos e que me abraça de vez em quando. Perguntaram por que ainda sorrio. Não sei bem . "A rosa não tem porquês, floresce porque floresce", disse uma vez Angelus Silésius. Ás vezes acho que se eu parar para pensar no porquê de sorrir, paro imediatamente. Algumas coisas nos entristecem e muito frequentemente sem que percebamos. O que seria de nós sem  socorro das coisas que não existem. As pessoas palpáveis, vivas, nos fazem de vez em quando sentir saudade das que já se foram.  Por estarem as segundas repletas de sorrisos eternalizados em instantes que jamais se repetirão. De vez em quando dá uma vontade de dormir e sonhar com o mundo em que as pessoas não nos deixam com o passar dos anos. Pode ser apenas devaneio...Enquanto isso, vamos amadurecendo com  a saudade e a distância intransponíveis até que fiquemos prontos para colher do pé de que fomos plantados. Espero que haja tempo para o brote e que os pássaros tenham tempo de trazer a semente de  novos dias para os que virão depois de nós. E que possamos ter alguém para olhar para o nosso jardim com olhos de saudades...