segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Reminesências esquizofrênicas (continuação)
A concha que eu falei tinha que ter alma. Primeiro por causa de sua  condição. Havia um quarto escuro em seu inteiror e quem quer que olhasse  lá dentro, nos interstícios aquosos da baba conchal perceberia um  menino ali sozinho, e uma porta semiaberta (ou semifechada, como você  preferir).O menino ignorava a presença de quem o observasse. Ao lado de  fora do quarto, depois da porta havia uma luz. A luz dava para algo  indecifrável, que não se podia descobrir a natureza, já que somente o  menino tem o poder de abrir a porta. Mas o menino ignora a curiosidade  de quem o observa limitando -se a observar o vazio. No começo você fica  com um pouco de raiva.Ou não sei o que você sentiria. Foi o que eu  senti. Raiva dele não levantar dali.  De ficar ali olhando para o nada,  de bobeira. E eu ali querendo chegar  na porta. Mas não podia. Naquela  concha talvez só coubesse um menino de  cada vez. E eu deixei de ser  menino há algum tempo. Já me custara  acreditar que ali pudesse viver um  .Mas depois de acreditar um pouquinho ao menos a história está salva.  Tanto que agora nem sei mais se realmente o vi ou se eu inventei. A  gente pode criar outros mundos com essas coisas maleáveis que se chamam  palavras, mas só quando elas querem porque ás vezes somem ou ficam  divagando numa folha em branco. Então temos um texto como este aqui que  não se sabe quando vai terminar. Pode ser agora ou pode ser nunca. E o  menino ali. As palavras conseguiram me distrair, já nem estou mais bravo  com ele. Espere, ele levantou-se bem devagar. E voltou a sentar-se.  Devia estar mal acomodado.Não vá embora!Um momento, espere eu virar a  concha... Aqui está ele. Deslizou pela superfície da coisa e está agora  ao lado da porta. Se eu soubesse que era só fazer isso. Vejam só, ele  está abrindo a porta, O pequeno facho de luz está refletindo algo maior,  um...espelho?! Não, são muitos, diversos, milhares. Não acredito que  vim até aqui só para encontrar um espelho. Droga, cairam por terra todas  as minhas considerações. As palavras me abandonaram. Como vou poder  explicar isso. Um espelho agora é demais. Aura de mistério, imagens do  vazio, questões metafísicas, existenciais...um espelho?! Espere, tem  algo dentro do espelho. A imagem do menino está refletindo. Você está  vendo o mesmo que eu? Não acredito, o tempo inteiro era isso. Como não  pude perceber antes?!. Desculpe fazer você chegar até aqui acreditando  que este texto poderia ter sido bom.A culpa é das palavras ,só pode ser,  eu fiz exatamente como o mestre Drummond havia dito. Penetrei no mundo  das palavras aonde estavam as histórias que ansiavam por ser escritas.  Passei por lá durante algum tempo em silêncio e depois ri, chorei, me  emocionei com o que elas tinham para contar. As coisas que disseram  conto outra hora. O mais importante foi que disseram pra eu escrever,  que fluiria naturalmente. Mentiram, olha só no que deu. Agora nem sei  como acaba a história, ou crônica ou carta, já nem sei mais o que  escrever. O que? Ah, peraí que o menino está me chamando, ele quer me  mostrar algo.
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