sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cartas de amor rasgadas..



Haviam se conhecido desde a infância do amor dos dois. Foram separados muito cedo e cultivavam entre  si este sentimento nobre que os aproximava cada vez mais. Ambos esperavam que  o casamento do outro terminasse para que pudessem enfim concretizar seu desejo íntimo. A vida havia sido cruel, os casais haviam durado além do previsto. A felicidade jazia nas cartas que enviavam um para o outro na esperança de tornar  o amor indissolúvel pelas areias do tempo carrasco. E eternizaram o instante do encontro inicial. Nunca haviam se beijado senão em sonhos. À fragilidade das lembranças amarravam por uma linha tênue que insistia em alimentar o coração com metáforas e poesias de amor eterno. Enamoravam-se à distância. Um deles estava sempre viajando. Mandava postais de todos os lugares com declarações de instantes que teriam sido completos apenas com a companhia do outro. O outro vivia recluso.Suas companhias eram as palavras que vinham sempre de madrugada e eram atiradas pela janela com o  cheiro do perfume característico do lugar que o outro havia visitado. Sentir o aroma do amante distante, as carícias que brotavam das linhas; imaginar a respiração ofegante do outro ao segurar a carta; a apreensão e expectativa do primeiro e sentirem-se próximos pelo que não haviam vivido. Guardavam lembranças de um mundo inexistente que crescia dentro dos dois como um pássaro privado do voo. Queriam poder voar ao sabor do vento doce  e levitar ao som dos passos de uma primavera grávida de auroras e crepúsculos extasiados de um não-sei -o-que que os haveria de completar no re-encontro.Um dia ambos ficaram sozinhos. E marcaram o encontro que iria uni-los de uma vez só. Poderiam sair das sepulturas que os casamentos indesejados lhe haviam imposto. Encontraram-se  ao por do sol. E o espetáculo era tão belo que desejaram que nunca houvesse terminado. Pela manhã, abraçados, revelaram um ao outro o seu íntimo. As coisas que esperavam do outro, os anseios e expectativas para o futuro breve numa velhice feliz que teriam juntos. De repente, se deram conta de uma coisa. Aquele ser ali á sua frente não era a pessoa que amavam. Ela jazia em algum lugar do passado sepultada junto com as cartas de amor. Retornam a suas casas. As cartas foram rasgadas. Nunca mais se viram desde então.Preferiram viver ao lado do objeto que tanto amavam guardado apenas na lembrança e nas recordações do que poderia ter sido...

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