segunda-feira, 25 de abril de 2011

Devaneios

Aos poucos um muro foi tomando conta de mim. Á minha volta, um silêncio ensurdecedor e uma vontade imensa de... Os tijolos aos poucos foram se fazendo contornar, primeiro minúsculos,depois,grandes castelos, fortalezas de duras realidades impregnadas de frieza. O meu mundo foi se restringindo aos poucos ao que restava do muro em minha direção. Aos poucos uns olhares pelas frestas dos tijolos me lembravam que havia vida do outro lado e eu ali estava, sozinho. Construí uma cabana com asas de pássaro ferido e as janelas cobri com o bico dos beija-flores jazidos sem corpo do lado de lá. Ouvia o barulho dos concretos impondo sua majestosa presença. E aos poucos os risos infantis silenciaram cada vez mais. Percebia que quanto mais os ruidos lá do outro lado do muro se tornavam frios e modernamente tecnológicos, os do meu lado eram silenciosamente luminosos. Aos poucos as cigarras faziam conserto para que eu acordasse, as libélulas esvoaçavam suas asas desfazendo-se em lençois, como uma espécie de agradecimento por não haver construído nenhum arranha-céu que  interceptasse-lhes o voo. Os beija-flores catavam os bicos de seus ancestrais num velório continuo em minha janela. E as rosas e as tulipas amanheciam entardeceres de sorrisos. Construi uma rede, assoviei uma canção, fiz um café com as maçãs que um pessegueiro insistiu em fazer surgir em homenagem a uma macieira já desfalecida. As maçãs tinham gosto de pêssego. Os bicos dos pássaros desfizeram-se. Sumiram as flores. E as cigarras. E as libélulas.  Percebi que tudo havia se impregnado e constituia agora a superfície do meu corpo. Peguei uma árvore e caminhei em direção ao muro, nada mais haveria de me separar (junto com a natureza que agora fazia parte de mim) do que estava no outro lado. Quando bati o tronco da árvore pela segunda vez no muro, percebi que estava em meio a uma multidão numa rua repleta de semáforos, carros e prédios. Ao meu lado construiam um muro. Fui em direção a ele e não enxerguei ninguém do outro lado. Quis ir para lá. Pela primeira vez depois de haver acordado, senti saudades daquela cabana atrás do muro...



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