quinta-feira, 28 de abril de 2011

reticências da vida...



E porque ria com frequência, acharam que fosse garoto de programa. O sorriso, para aquelas pessoas vulgares, nada mais era do que uma porta aberta para o flerte, uma sugestão de enunciados libidinosos inspirando saciar o prazer em outro local mais apropriado. E ele nem desconfiava. Os encontros que marcava eram diferentes dos habituais. Procurava ser romântico. Levava para passear ao luar, recitava poesias e cantava músicas que lhe fizessem sentido. E acreditaram que ele fosse sedutor demais, oportunista. Ele, mesmo não acreditando que pudessem pensar algo assim, preservou as mesmas atitudes. Algumas das pessoas com as quais saíra, apenas deitara a face em seu colo e fizera carinho até adormecer. Outras, mostrara a exuberancia do por do sol em meio ao silêncio que tanto amava. E por tentar revelar sua essência, cada vez mais distorciam sua imagem. Diziam-no aproveitador, um leão em busca de uma presa que lhe saciasse os ímpetos carnais. Um dia ficou triste, foi quando começou a amar.E para proteger aquela que amava, reagia não revelando o sentimento que sentia para outras pessoas. E por amar demais deixou-se enclausurar para que não ferissem o seu amor. Aos poucos, descobriu que as pessoas ferem umas as outras sem motivo aparente e que teria que conviver com isso. Passou a achar engraçada aquela situação. Achou desolador o fato de não poder namorar ninguém, pois os inquisidores faziam questão de dizer "quem ele realmente era" para quem quer que ele saísse. Não tentava se explicar, apenas pensara em abandonar as pessoas que amava e murchar seu sorriso sempre em floração.  Um dia um amigo, destes que tiram do poço enquanto outros ditos amigos ajudaram a colocar lá, defendeu-o das acusações sem que ele soubesse. E outro fez a mesma coisa. A essência dele que julgara perdida, incompreendida, eles haviam conhecido. Ficou muito feliz em saber que havia alguem que o conhecia de verdade, para quem não deveria explicar-se. Disseram que as pessoas, quando não são muito felizes, tentam minar o sorriso dos outros. Não sabia o que havia feito, sempre fora atencioso e fizera de tudo para que quem estivesse ao seu redor se sentisse bem. Algumas pessoas não querem se sentir bem. Quando se é amigo de verdade, não se cria ficção para justificar a desilusão com as atitudes dos outros. Resolveu viajar. Retornaria em breve, com uma roupagem nova, despido das mediocridades. Descobriu que tinha pessoas que o conheciam bem e que, para isso, não prercisava dizer nada. Apenas um olhar seu, e saberiam decifrar a linguagem da sinceridade. Descobriu que se importar com os outros não é defeito algum e que ao invés de entristecer, o que devemos fazer frente a alguma situação inesperada é se render ao silêncio e um passeio com os pés no chão. Os horizontes da vida são muito extensos para se importar com as pedras do caminho. Elas podem muito bem estar ali para sentar-se nelas e apreciar a paisagem...


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