sexta-feira, 25 de março de 2011

sobre os ecos e as vozes da sede

Um menino tem fome...Perdido em meio a um lugar desprovido de sensibilidade, anda pelas ruas esfarrapado e triste...ninguém o observa. Procura algo que sacie o vazio da crueldade de não haverem sentido suas ânsias escancaradamente expostas. Passam pessoas a todo momento. Não olham para a criança abandonada, de olhos lacrimejantes reclamando seu direito de suprir uma necessidade com uma intensidade tamanha e o que faz é apenas chorar baixinho. Até que aparece um poeta. O menino diz que tem fome. O poeta entrega-lhe o prato. As bordas são deliciosamente contempladas. Aquele prato é diferente de todos os que já lhe ofereceram. Observa  a comida delicadamente espalhada na superfície que até sente pena de devorar. Mas o seu interior fala mais alto, algo dentro de si reclama o preenchimento. O vazio do guri vai ficando repleto até a borda. Ele vai tornando-se outro aos poucos, aparece uma nova consciência de si e do mundo á sua volta. Timidamente agradece o poeta. Não tem mais fome. Apenas uma sede inesgotável de algo que não sabe definir direito. E dirigem-se a um restaurante repleto de pratos dos mais variados sabores.Ele dirige-se hesitante até a porta. Entra em estado de contemplação e inicia  o ato de devorar cada ingrediente para depois misturá-lo a outros. Descobre temperos novos que antes eram seus e que não sabia trazer consigo. Deixa aos poucos a timidez, amadurece a cada instante. Agradece ao poeta. Sai com um prato em mãos a procurar outro menino carente sedento do alimento pleno que tem em mãos. E sai pelas ruas sorrindo a lembrar que no encontro com algumas páginas desconhecidas tornou-se um leitor ciente da existência do mundo das palavras ... palavras que aos poucos vão entranhando na carne até tornarem-se um só com aqueles que as acariciarem com os olhos e lábios amantes...

Nenhum comentário:

Postar um comentário