sexta-feira, 25 de março de 2011

sobre os verdes e aquosos contornos de si

Entre os verdes e folhas de outono em pleno verão, descobri que as folhas adormecem ao cair, porque antes estavam lá verdes, vistosas, como um olhar que eu conheci. Há pouco tempo atrás, observava uns troncos robustos de uma floresta. De repente, percebi que eles aos poucos foram se enrolando aos meus braços. Os galhos unidos às minhas veias, a copa brotando em meus cabelos e as flores e os frutos confundindo-se em meus lábios e contornos de meu rosto. Vi ao longe um tapete de raízes explêndidas e uma montanha exuberante estendendo seus braços no horizonte com seus picos exibicionistas. Uma das folhas saiu de uma das árvores da montanha para acariciar minha face e foi se incrustando em meus olhos, esverdeando meus sentidos. Tornei-me verde e aquoso. Um penhasco pegajosamente líquido, um bosque desbravadoramente provocante, os olhos repletos de lagos de águas cristalinas. Então, um sábia veio pousar em meu ombro. Já não são mais ombros, transformaram-se em galhos de jequitibás. De vez em quando uma cachoeira passava onde antes eram minhas pernas. Olho atentamente com meu olhar de lago e percebo que onde antes havia a floresta, há agora um menino, guri que eu conhecia de espelhos e cacos atrás. Ele me observa ora atento, ora distraído a floresta que tem diante de si.  De repente, os galhos, luzes e cachoeiras vão aparecendo em seu corpo.Ao final, vejo à minha frente apenas o bosque de antes. Restaram-me os rios e essa alma de cachoeira que chove dentro de mim. Sei que já fui verde e aquoso. De vez em quando um sábia vem fazer ninho em meus ombros...


Nenhum comentário:

Postar um comentário