segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ainda ousamos reclamar das coisas que nos afligem...

O que está dentro de sua cabeça? Será que não estamos anestesiados após tanta violência? Os tanques de guerra e as bombas estão invadindo nossas mentes e bombardeando nossa compreensão. Com- preender. Junto com o ato de apreender precisamos trazer para junto de nós. Só por que não é a sua família você acha que não  deve se importar? Eles continuam lutando com seus tanques dentro de nossas cabeças e minando nossa humanidade. Aprendemos a "arte" de não se importar mais. E com que maestria o fazemos. Nos acomodamos até em nossas angústias. Perdemos o drama que nos constitui humanos. Perdemos o vínculo com aqueles que sofrem. Para os quais a morte não é a mesma, quando ceifa vidas e priva de sua companhia os que anseiam por ela. Haverá esperança? Haverá paz? Ao final de tudo, nos tornamos zumbis. Nos desligamos de nossa comoção. Não nos tocam os gritos de fome e miséria que relutam em escancarar suas vozes agonizantes. Em nossa cabeça restam apenas o egoísmo e os sentimentos mesquinhos de nossos bens adquiridos.Não me diz respeito. Continuarão morrendo aos milhares. É preciso acordar cedo para trabalhar. Quantos queriam poder pensar assim e agora estão na mira de um fuzil, sem acreditar nisso que chamamos de Deus e que parece não se importar mais. Tanto quanto nós. Até que a morte visite nossas casas. E achamos injusto. Não poderia ter chegado. Há tantos para serem levados, por que eu? por que um dos cacos que me formam? E compreendemos, que o grande silêncio é mais profundo quando nos abraça. E em nossa cabeça ecoam vozes daqueles que já se foram. Pratos estendidos e mãos vazias. Olhares chorosos e bocas em um meio sorriso banhado em lágrimas, esqueletos multiplicados pelo orgulho dos que fingem perceber suas vidas marcadas pelo olhar que esqueceu faz tempo que existem horizontes e novos céus para contemplar. Ao lado, somente verão fuzis e pessoas fenecendo ruídos sem sentido. O leite materno secou, as mãos jazem vazias de sorrisos. Feito animais têm sua dignidade arrancada pela ignorância de uns poucos. Animais alimentando-se da comida que sobrou pelo chão. Um pai carrega no colo um filho com os braços mutilados. O choro de pessoas perdidas daquilo que mais amaram. Que perderam o sentido de uma vida inteira. Apenas o abraço desesperado resta, das mães que ainda podem oferecê-lo. Mãos vazias de compreensão. Olhos repletos de um vazio mortificador. Só lhes resta o choro e o desespero e que a morte seja rápida e certeira. Que o silêncio venha absoluto. Não há o que dizer. Apenas a violência. Em nossas cabeças.Dentro de nossas cabeças.


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