Ele aproximou-se de um restaurante e encontrou um menino em frente à porta. O pequeno tinha suas mãos estendidas e o olhar sofrido. Teve pena dele. Parecia realmente precisar de ajuda. Convidou-o para entrar consigo. O menino olhou desconfiado. Nunca o haviam levado para almoçar. E bem naquela hora do dia. Mas os pratos lá dentro pareciam deliciosos. Seguiu aquele senhor que se apresentou apenas como um poeta. Não era dali. O resto não diria. Iria sumir assim como tinha aparecido. Por via das dúvidas, entrou, que preocupações são coisas de quem já saciou a fome, que é a preocupação mais genuína. Entrou no restaurante. Deslumbrou-se com os pratos que o poeta pediu. Em cada borda, em cada refeição havia algo que ele nunca tinha visto antes e que não sabia explicar. Correu os olhos pelo lugar. Nunca tinha estado ali, do contrário, certamente lembraria. Os pratos foram vindo e o poeta apenas observava. De vez em quando ,ele abria os lábios para dizer coisas que o menino nunca havia escutado mas que o arreabatavam para um mundo desconhecido. Terminaram de comer. Iam sair e o menino pediu-lhe que ficasse junto, porque precisava voltar outro dia. O poeta apenas sorriu. E de repente, em frente a primeira fonte do chafariz mais próximo, ele sumiu. O menino olhou para os lados, não mais o encontrou. Restou apenas sobre os seus pés um prato, parecido com os outros, que o menino sabia ter sido deixado ali de propósito. Chamava-se "O semeador de estrelas". Sabia que iria devorá-lo até o fim. Mas teve uma ideia melhor. Saiu pelas ruas á procura de outro menino que estivesse de mãos estendidas. Se apresentaria como discípulo do poeta e lhe mostraria o mesmo restaurante. Um dos pratos, ele já trazia em maõs. Com certeza encontraria muitos meninos tão famintos quanto ele. E haveria de apresentar o alimento que lhe fora oferecido. E lhe mostraria outros mundos, esfacelando suas tristezas e colocando-as na palma das mãos. Tornou-se um semeador de estrelas. Encontrou muitos meninos sedentos. Até perceber que teria que partir e à sombra da primeira árvore florida despediu-se. Todos os anos muitas crianças vem assentar-se à sua sombra. De vez em quando de suas raízes brotam algumas páginas com alguns textos, coisas simples, Clarice, Drummond, Quintana, Cecilia, Vinícius, Adélia e Manoel, todos aparecem nos pedaços de seus galhos. E uma melodia ora triste, ora alegre de vez em quando surge com a brisa. Não se sabe de onde vem, mas para onde vai as crianças não tem mais dúvida. Para o mundo das coisas que não existem, para voltarem repletas de um colorido todo especial. O restaurante? Fica bem em frente, para lembrar o dia em que o menino encontrou o poeta. De vez em quando um tal de Alberto Caeiro aparece por ali. Não pede prato algum, apenas contempla a árvore da janela e sorri. Não se sabe o que estará pensando. E se olharmos com bastante atenção, toda vez que ele surge, uns pássaros que ninguém conhece de umas penas exuberantes e cheias de cores vêm fazer ninho nos galhos que brotam em cada intervalo de seu sorriso...
Distante... Ou mesmo próximo, minha inclinação para estas palavras seriam insuficientes. Estaria eu revestido de/com outras concepções?
ResponderExcluir- Talvez eu já tenha um fardo, não é caro Cronista? - Quem ainda hoje me diz o seguinte: "A verdadeira crítica é como o Farol de Alexandria".
Faço questão de gritar, se preciso for. Este é um não tão simples texto. E somos separados por ele. Esta é a escrita do Éderson que eu conheci em Março - talvez ano passado - na Universidade.
Exatamente a sua face. Texto repentinamente poético, versos cheios de... "Coisas que o Éderson sabe."
- "E lá se vai o caleidoscópio em mãos. Apagam-se as luzes do Farol".
- Juan Oliveira =]