terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Estou num quarto escuro. Como utilizam estas metáforas, ainda não entendi o motivo. Quartos escuros não me assustam e conheço algumas pessoas para as quais a própria claridade é que são elas.Viver em meio aos holofotes deve ser muito chato. Outro dia assistia um canal de fofocas sobre celebridades. Uma mulher saiu na rua e suas roupas não estavam de acordo com o ambiente. O cachorro deu três latidos. A mulher voltou para casa. E isso (pasmem) virou notícia.  Talvez para que nos esqueçamos de nós mesmos. Fazemos as mesmas coisas e soam tão banais. Mas as estrelas, ah estas nunca são banais! Nunca entendi o porquê desta definição. Estrelas vivem enclausuradas?! Estrelas suplicam um pouco de privacidade? Não creio que assim seja, pois todas as noites estão ali, além de nossas janelas, depois do quarto escuro, uma luz tênue que vai se expandindo aos poucos.As verdadeiras estrelas, astros dignos de serem observados jazem no mais profundo abandono. Para elas não temos tempo. Não importa que formem desenhos e ofusquem a noite escura lançando seus braços no abismo. Fugimos do abraço. Não queremos cumplicidade com algo que não seja banal. Coisas que se transformam, se reinventam a cada noite, aparecem novas em outros corpos cristalizados e móveis. Espelhos do abismo. O abismo (sempre a figura de algo misterioso) que não sabemos onde vai dar. E o mais curioso é que todos temos grandes abismos em nós, cada vez mais infindáveis. Lugares aonde nunca fomos, sensações que ainda não sentimos. Preferimos o seguro. Conformamos nosso pensamento a obter algumas certezas. Cultivamos a erva daninha das convicções e desistimos tão facilmente da matéria de que somos formados. Por acreditar talvez que a estrela de outro brilhe mais forte. Quem é que criou essa escala de ofuscamento? Quem é que determina o quanto eu devo caminhar? Passamos tempo demais vivendo a vida dos outros. Quero a liberdade de encontrar os jardins escondidos nas coisas que amo. E encontrar dentro de uma fonte uma pequena centelha de luz. Cuidar dela como se fosse minha para descobrir que, com o passar do tempo, nem saberei ao certo se cuidei daquele fagulho como outra coisa ou se era um pedaço de mim mesmo, pois ela já estará perdida em um dos abismos que me constituem. Ainda prefiro lançar-me no abismo de mim mesmo aonde roupas ou latidos não importam. Quero mergulhar no silêncio de mim, para encontrar algo próximo. E se for outro, que seja o outro que é parte de mim e eu vá assim aos poucos encontrando os cacos que perdi pelo caminho. Pode não render notícia alguma, mas ao menos terá valido a pena.

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