domingo, 19 de dezembro de 2010

escreviver no mundo das palavras

Que coisa mais engraçada esta arte do escrevinhador. As palavras se depositando no papel. A dor fingida, a sutileza contida nas entrelinhas, como numa conversa que abre janelas interiores. Como é possível que nossas palavras falem mais de nós do que nossos gestos? Escrevo com sangue, como Nietsche achou que devia ser. Vejo signos modificando os muros da existência e penetro profunda...mente no reino das palavras. Tenho que as observar de perto. Ainda não aprendi a extrair-lhe os significados íntimos. Quando procuro escrever sem cuidado sou criança travessa e elas embaralham-se de tal modo que não consigo mais ir além. Essa coisa indescritível que sentimos ao ler algo que outro escreve até que parece que o autor nos conhece como se houvéssemos sendo descritos em cada linha. Diante de uma boa escritura, nos sentimos despidos de nossa natureza. Alguns autores preferem trazer à vida palavras gritantes, repletas de ruídos, cheias de ecos e vozes. Não sou eu. A pouco tempo descobri que o silêncio também possui ecos e ruídos que envolvem por não estarmos acostumados a eles. Outro dia conversando com um rapaz, ele disse uma coisa que achei curiosa, no mínimo: "existe uma linha tênue entre a sinceridade e a falta de educação, podendo estas se confundirem a qualquer momento". Olha, não sei de onde ele tirou isso. Não deixo de ser sincero ao utilizar sutis encantamentos verbais. Ih, olha só a poesia metendo o bedelho no texto. Sim, as palavras possuem um encanto que não se pode comparar a coisa nenhuma. Depois de ditas, as coisas criam a forma que a imaginação esculpir. Num livro do Eduardo Galeano, li que as histórias em algum lugar são contadas apenas a noite, que onde o sagrado está solto. Escrevo este texto ao dia, que ainda não aprendi a lidar com o sagrado. Sagrado é tudo aquilo que as palavras fazem brotar do texto, trepadeiras e flores que se arrastam em nuvens ora tempestuosas como os impactos que causam ora suaves como uma brisa delicada. Se o encantamento das palavras que escrevo surgirem, que seja na hora da leitura, e que abrace quem as contemplar. E que sejam educadas e impactantes confundindo-se aos contornos e cacos daqueles que as virem. E sumam de vez em quando para que tenham que retornar à busca incessante de construir significados nas palavras do outro e descobrir que essa coisa frágil que chamamos essência pode estar ali mesmo... nos espelhos que dão para mundos (des)conhecidos...



Um comentário:

  1. Quando o Sol se põe, é notável que a magia penetra no âmago daqueles que escrevem; aqueles com compromisso. Pois aqueles descompromissados - sortudos mesmo - escrevem livre, sem esperar pela noite, e consequentemente a magia E eu já não sei se, afinal, a sua escrita é mágica sem saber, ou se é a convicção de que não se deve mexer com este sagrado. XD

    ResponderExcluir