sábado, 25 de dezembro de 2010

Não quero a alegria de dentes escancarados...

Nasci. Coisa mais triste essa de ser puxado de dentro de um lugar aconchegante para outro lugar, o qual nem temos a ideia do que seja. Somos literalmente arrastados para o mundo que chamávamos real. Os outros ainda não retornaram para dizer como é. Só saberíamos quando chegássemos lá.E de repente, pronto, aquele clarão nos olhos e um homem de branco nos tapeia de leve. Só nos resta chorar. Nascemos irmãos da tristeza. Irmãos da dor. Nossos sentidos  se deixariam levar por ela durante algum tempo, até nossas alegrias seriam tristes por causa de sua efemeridade.Nossos olhares se confundiriam com os sorrisos até percebermos que a tristeza poderia significar algo maior. Como não compreendíamos o fato de sermos tão tristes sem cair em depressão, criamos a constatação de que alegria deveria ser eterna, sorrisos que estendem seus braços para a eternidade. Então, alienamos nossa tristeza, desaprendemos aos poucos a arte de nos comover com a beleza. Tudo o que é belo é assim, um pouco triste por não podermos prolongar o instante tempo afora. Perdemos a arte de reconhecer os cacos que nos formam, porque passamos a achar que éramos insubstituíveis, únicos, completos. E aumentava cada vez mais nossa tristeza. Um dia nos encontramos em outro olhar, um rosto que nos mirava desafiador. Ele repetia nossos gestos e nossos anseios adivinhava. Um clarão de luz se fez e fomos puxados para outro mundo que não reconhecíamos como real. E voltamos para um lugar aconchegante. Será isso o reverso do nascer?! Voltar a encontrar a verdadeira tristeza crepuscular de nossa essência?! Não quero a alegria dos palhaços. São atores, seres tristes enclausurados numa aparente arte do riso. Certos estão os maquiadores quando pintam no rosto do palhaço um resquício de lágrima. Quero a alegria vinda do silêncio, sem dentes escancarados, duradoura, que pode não levar mais que alguns dias,mas sobrevive aos instantes de riso fingido. Quero um amanhecer leve e suave e uma gota de orvalho banhada de sangue em meu rosto, para ser quem eu deveria e lembrar de que eu fui, antes daquele clarão de luz que me cegou os olhos, o corpo e a alma...


2 comentários:

  1. Adorei Éderson!! Maravilhoso, poético e verdadeiro!! Chega de esconder nossas tristezas e termos que escancarar felicidades para sermos aceitos! Afinal, todos sabemos que essa alegria eterna não passa de um grande blefe!

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