O diário é um livro de folhas em branco sem significado algum. O dono é que vai impregnar nele os sentidos cotidianos que merecem ficar na lembrança. Todo diário é uma junção de cacos, de contornos e impressões que pertence aquele que o escreve. Isso mesmo. Os pedaços que formam o emaranhado de cada instante, de cada lugar ali impresso, gravado com o sangue de quem redigiu. Mas redigir é tarefa penosa. Lembra que devemos nos despir em frente a um templo sagrado do qual somente nós teremos a chave. Significa reconhecer-se nos espelhos daquilo que se escreveu. Nos insterstícios das palavras, profundamente exaurimos nossos defeitos, revelamos quem somos e transubstanciamos por completo a matéria de que somos formados. Por isso que encontrar um diário fechado e abri-lo significa uma invasão sem precedentes. Um estupro de nossas ideias mais íntimas e uma violência sem desculpa. É impossível conhecer uma pessoa diretamente. Mas ao encontrar o que ela guarda, podemos traçar um perfil, que será único, pois cada pessoa guarda coisas que para si são essenciais. Um diário normalmente é secreto porque é preciso esconder a alma na sua nudez. Quem lê um diário descobre a alma do dono. É um espelho que guarda minhas imagens passadas. Os sentimentos, as sensações, os desejos e os anseios que em mim palpitam. Nossos diários são as imagens que desejamos guardar e que queremos que sobrevivam ali, quietinhas, eternizadas no papel, aonde podemos retornar sempre que tivermos vontade. Ali estão as vozes e melodias que me inspiraram e me fizeram sorrir ou chorar. Meus suspiros, minhas dores e o pulsar de um coração num mundo sem coração, minhas esperanças e canções. E só competem a quem escreve, nada mais. Fechando-se as folhas, para o mundo lá fora, elas retomam sua brancura original.
Justamente no último dia, dia em que seus registros perderam "sua" principal Orbe, aquele quem sempre escreveu "a sua última página", se depara com a dor de seus cacos; a impressão de que tudo perdera o sentido; de que ele havia encontrado a tênue linha entre o fim, e a ausência.
ResponderExcluirSe não bastasse um mundo lhe esperar, a fim de abocanhá-lo com aquela sensação gélida, chamada Solitude, o personagem de suas próprias linhas encara, no espelho do outro, o eco da sua própria essência.
Quais são as possibilidades de tudo encaixar-se assim...?
Para mim, esta data não é uma coincidência que deve ser desprezada.
- Obrigado Éderson, agora minhas páginas podem dizer aquilo que eu não soube lhes fazer contar.
Meu Diário se fecha novamente [...]
- Apenas 129600 minutos monocromáticos...
- O pior(?) é que existirei para suportar.
Escrevo diários. Confesso que adoro fazer isso. Meu diário é onde eu posso ser eu mesmo, sem ter que me explicar ou usar máscaras.
ResponderExcluirNão sou daqueles que o fecha a sete chaves, todos sabem que está na minha gaveta. Mas me sentiria violado se alguem o lesse. Será que iriam me entender melhor?
Já sou seu seguidor.www.pensarpoesia.blogspot.com
ResponderExcluirVai lá!