quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

quando castram a criatividade...

Uma única caneta vindo em direção ao texto que levou um tempo considerável para vir à luz e mais nada. Apenas lágrimas sobre o papel. As palavras foram arrancadas de sua intimidade e construção e banidas dos ouvidos daquela que leu. Apenas um olhar sádico e um sorriso sinistro, prestes a colocar por terra todas as boas intenções de um texto que parecia puro e que agora jaz pelo chão aos pedaços... Não seduziu os ouvidos protocolares de quem o leu. Não chegou nos vazios virginais dos ouvidos que relutavam em enamorar-se da poesia ali contida. Na verdade, nem tentou entender. Não,deveria ser séria, essas coisas de escrever de modo poético facilitam muito. Tem que escrever difícil, que é para menos pessoas entenderem, que é assim mesmo que se adquire respeito. Tem que falar difícil, se conseguir ser o mais frio possível, melhor. E você que escreve não existe, quero que diga o que eu espero escutar, se não for assim, nada feito, teu texto será reduzido a um resultado medíocre. Ninguém o lerá, é para ser escondido, não atingiu a nota necessária para ser um bom texto. Fiquei comovido quando ela me mostrou seu texto. A mim parecia tão bom...Mas, ao que tudo indica, não tenho capacidade necessária para avaliar, falta-me um papel dizendo que estou habilitado... Tocou-me fundo aquele texto. Ela ouviu que os textos nem devem servir para isso, de comover (devem apenas dizer pouco, engaiolar as ideias pré-estabelecidas), senão ninguém respeita. Criatividade, só se estiver bem escondida. Fiquei com pena, pensei que meus textos teriam o mesmo destino. Jamais passaria a uma avaliação daquelas. Outro dia um rapaz mostrava suas notas orgulhoso, trazia em mãos um boletim cheio de 10 escancarados. Perguntou o que eu achava. Falei que ficava com pena dele. Ao que ele estranhou. Passei minha vida inteira buscando boas notas, disse-me ele. Falei: é pena, você aprendeu a moldar o que diz com aquilo que aprendeu, mas e o teu rosto? onde está? Tinha tornado-se pessoa sem rosto, sem medidas, sem voz, tornou-se apto a repetir o que lhe ensinavam. Desaprendeu a viver no mundo das pessoas normais. Não sabia lidar com a frustração de uma média menor que nove. Nunca mais o vi. Deve ter se mudado para o país onde as pessoas buscam continuamente serem aprovadas por alguém mais capaz que elas...e se esquecem das coisas para as quais não se pode tecer avaliações. Prefiro o anoitecer, a brisa da manhã, o barulho das ondas. Dessas, ainda ninguém pode arrancar a poesia contida nas entrelinhas de seus escritos...


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