domingo, 19 de dezembro de 2010


Andei escrevendo demais sobre as sem razões do amor. Sim as sem razões. Preciso escrever sobre outra coisa que senão os leitores batem em retirada. O amor só é interessante para aqueles que o sentiram. Nem todos esperam um amor. Nem todos realmente carecem sentir essa coisa que nos arrebata e tira os sentidos. Bem disse o Fernando Pessoa: todas as cartas de amor são ridículas. Elas podem não ser para os apaixonados, mas para os que não partilham da mesma experiência... Não sabia que havia tomado uma decisão. As palavras que foram escrevendo por si mesmas. Daqui a pouco me perguntarão se estou apaixonado. Direi que sempre fui e que paixões existem das mais diferentes formas. As coisas que amo vão aos poucos moldando uma certa tolerância com as frustrações. Algo digno de ser (re)escrito. A magia daquilo que escrevo talvez esteja no fato de que não posso esconder-me de mim mesmo. Confesso que amo. A esta pessoa que escreve, primeiramente. Por saber me entender como nenhum outro, por acreditar que os erros são passíveis de contemplação e não de punição. Que as coisas simplesmente (estou utilizando esta palavra com certa frequencia) acontecem e que as brumas e espumas de um mar revolto se encontram num crepúsculo banhado de sóis. Falo muito em crepúsculos. Talvez por acreditar que sofremos de uma tristeza crepuscular a saber que as coisas carregam um grau de finitude intolerável. Ousamos acreditar que aquilo que amamos (outra vez o amor metendo o bedelho) deva ser eterno e intenso. Linguagens, cores e sabores nos trazem a consciência de que vamos sempre nos repetir. É difícil aprisionar os que tem asas. Só não repetem os contornos e nuances  das palavras aqueles que ainda estão a procura. Quando encontramos, é um eterno repetir, para gravar fundo, com ferro quente e amarrar-nos a uma sensação de (in)completude... 


2 comentários:

  1. "Talvez por acreditar que sofremos de uma tristeza crepuscular a saber que as coisas carregam um grau de finitude intolerável."

    - E a tristeza, acorrentada a sensação de (in)completude, escreve por si mesma. Textos assim ainda têm muito o que se multiplicar, não é?

    - Não é questão de usar frequentemente a palavra "simplesmente", e sim de que, como seres tolos -acredito eu -, tentamos simplificar aquilo que nos é inconcebível, sem compreensão. São "as sem razões do amor", oras! Parecemos melhores ao ignorar a vastidão de seus significados. E ainda assim, fazemo um bom trabalho, um eterno repetir; para gravar fundo...

    Parabéns; "simplesmente".

    ResponderExcluir