sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

sobre contornos tristes e belos...

Ostra feliz não faz pérola. A perola, para quem não sabe é quando um grão de areia entra no interior da ostra e começa a machucá-la. E para que ela não se machuque com as arestas pontiagudas daquele grão, resolve envolvê-lo com um envólucro protetor que por fim virá a se tornar a pérola. Nós também somos um pouco ostra. De vez em quando um grãozinho de areia nos incomoda. Diferente da ostra que o envolve e acaricia com uma superfície delicada e tenra até que o incômodo se desfaça, resolvemos nos entristecer e desiludir. Não nos ensinaram a conviver com a tristeza. Ela parece ser vilã. Disseram que é preciso estar sempre rindo, que não se deve chorar, que a vida é espetacular e assim por diante. Ora, a vida pode ser bela e triste. Não que isso seja uma coisa ruim. Para os gregos não havia um lugar aonde as tristezas se tornariam alegrias. Drama é coisa séria. Não é para se tornar alegre depois, senão não seria drama. Perguntem como é que os gregos não sucumbiam á depressão. Eles a transformavam em beleza. Há músicas tristes e filmes até que nos fazem ficar tristes. E não há nada de errado nisso. Os artistas assim se tornaram por saber transformar tristeza em arte. Quer algo mais triste que uma mãe segurando o filho desfalecido nos braços sem nada poder fazer?!Tristeza é coisa séria. E seria interresante não subtrair as lágrimas de dor sentida. Elas vão traçando os contornos de nossa alma tanto quanto as nossas alegrias. Podemos não ser artistas, mas ao aprendermos que a vida pode ser triste, ela não deixará de ser bela por isso.Quero defender o direito de ser triste. E que as minhas palavras, ao dizer a que vieram, deixem escorrer de leve uma lágrima de vez em quando ...

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Palmas para isso!

    Parece que enfim o "poeta do amor" conseguiu traduzir fielmente a essência do "poeta da dor".

    Deu significado latente ao combustível que move este último, com inegável clareza.

    As duas faces agora se encaixam perfeitamente, mesmo que tendam incontestavelmente se anular...

    Eureka! É isso!

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  3. Mais palmas então. Porque não é para vivermos felizes. Satisfeitos sim, mas felizes...? Então onde estaria o drama? Quando haveria a oportunidade de ler este pequeno texto? - digno das palmas mais desoladas e verdadeiras; o solene reconhecimento que um amante da tristeza pode oferecer.

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  4. Não sou disso, mas reconheço: faço inteiramente minhas as palavras do anterior, com toda a licença poética, se é que me permites...

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