domingo, 12 de dezembro de 2010

sobre palavras e conformidades...

Somos adestrados ao conformismo. Sempre há uma autoridade que nos impede de sermos quem realmente desejamos. Por vezes um senhor chamado tempo torna-se sinônimo de carrasco. E queremos ficar numa boa. Mesmo que estivéssemos doentes, mesmo que nada estivesse legal, que tivéssemos nossos sonhos castrados por uma desilusão ou  nossos anseios decapitados sem qualquer escrúpulo. Engordamos, emagrecemos e podemos estar falidos. Estamos fadados ao conformismo. Dizem que devemos acreditar quando as circunstâncis não nos são favoráveis. E quando elas forem, que diferença faz se podem passar despercebidas ( por causa de nosso conformismo). Nos habituamos a ler o que os outros escrevem sem relutar, e a deixar que as palavras nos levem a caminhos estipulados, não nos permitimos voos mais amplos. Não quero leitores. Quero desbravadores. Ou meus textos seriam tão ruins quanto (de)formadores de expressões rasas e sem sentidodo algum. Não para ler apenas, mas para tornar significativo o lido, não por minha causa, mas por que nem sou eu na verdade quem escreve. As palavras é que vão se depositando no papel. Eu só faço é redigir. Pensam que tenho liberdade? Enganam-se. A qualquer momento, quando tento me desviar do que é preciso ser dito, as ideias embaralham e não escrevo mais nada, que é preciso apenas ouvir. Penetro surdamente no reino das palavras onde estão os textos que aguardam a escritura. Mas não sou eu quem escolho o tema, tampouco sei onde vai dar, apenas obedeço. Palavras carascas, linhas traçadas de acordo com o que querem dizer. Quem sou eu dentro do texto? De vez em quando consigo distraí-las e escrevo algo que me convém. Modifico aqui e ali. Mas não posso mudar a essência do que já foi dito. Parece-lhes cômodo? Não o é. Depois de escrever não posso esconder numa caixa longe dos olhos de qualquer pessoa. Tenho que exibir, mostrar (não que eu queira, são as palavras que pedem que eu o faça.). Tenho receio de que um dia não mais me sirvam para preencher uma folha em branco com suas matizes. E me alio ao tempo, digo que não o tenho. Que estou doente, falido, que engordei ou que emagreci. Para poder escrever. Somos adestrados ao coformismo. Nem sei porque disse isso. Terminei sendo adestrado também. Quero um tempo que não seja carrasco, que me liberte de minhas frustrações, que me dê liberdade além daquilo que as palavras querem dizer, que eu possa dizer. Mas por enquanto gosto do que elas têm a dizer. E mesmo que aconteça tudo o que falei, estarei numa boa, por aderir a um conformismo bom, daqueles fingidos. Daqueles quando se começa um texto generalizando um sentimento particular para depois falar de si. E colocar a culpa em outra coisa (até no tempo), para poder dizer o não-dito. E fica sendo melhor. As palavras me adestraram. Espero que elas não esqueçam que o adestrador é muito mais treinado que o adestrado já que este só faz o que lhe pedem se obtiver algo em troca. Prefiro ser treinado para descobrir suas entranhas, para poder falar mais a fundo, descobrir os rios e contornos que as constituem e desbravar florestas inteiras. Este conformismo eu quero sim. E que continue comigo por muito tempo...  

2 comentários:

  1. "Ninguém ousa dizer adeus aos seus próprios hábitos. Muitos suicidas detiveram-se no limiar da morte ao pensar no café onde vão todas as noites jogar a sua partida de dominó."

    (Balzac)

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  2. ?

    Aqueles que buscam a morte não são suicídas. Os verdadeiros estão acostumados com a sensação, o peso de anjo negro em seus ombros. Isto é habito. Se, de fato, alguem se atirar de um prédio ou apertar o gatilho contra sí mesmo, fim. Não haverá o domino antes de se remoer na escuridão. Não será um habito.

    Sobre as palavras, "conformismo" soa perfeito para aquilo que elas nos mostram - ou que nós queremos ver nelas?
    Conformamo-nos em as ler, refletimos, mas após minutos, voltarmos ao cotidiano. Eu estou emagrecendo; ao menos não falido. Fim de reflexão, caras palavras.

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