quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tem dias que dá vontade de sumir. Pegar uma mochila ou nem isso, que é preciso deixar tudo pra trás, adquirir nudez até de pensamentos para começar a ser outra coisa que não esta puramente banal que representamos pelas ruas. De vez em quando me sinto mais próximo da morte, ela estende seus braços em minha direção até eu quase me esquivar, mas não o faço, não sei o porquê. Me sinto muito perto de alguém que contempla o abismo. Pensamento suicida, dirão alguns. Não é suicídio. Diante do abismo precisamos silenciar. Os ecos não podem propagar qualquer som. Existe todo um ritual das coisas que podem ser ditas para ecoar no vazio. Depois de ditas elas se emaranham ao não-dito, nos intervalos daquilo que relutamos em escutar. Andei pensando muito em abismos profundos, mares bravos e tempestades avassaladoras. Descobri que a brisa suave e o sussuro podem assustar muito mais. Algo que vem delicadamente e se deposita ao nosso lado e sorrateiramente repercute nos vazios da alma de quem  escutar. De início ignoramos, alegando não ter a ver conosco. As palavras podem dizer qualquer coisa que continuamos sendo os mesmos.Ledo engano.É o caso da poesia. Disseram que os homens haviam perdido a capacidade de se encantar com o belo. Ora, quando falta essa capacidade,subtraio uma parte de mim mesmo. Nossa essência é o que há de mais bonito. Claro nem todos a pretendem encontrar. Melhor mesmo é deixar num quarto escuro, longe das janelas de entrada de nossa casa.Limitar ao máximo aquilo que somos que então fica mais fácil de entender. Seres reduzidos são melhores rotulados com nomenclaturas.Não é preciso buscar nas entranhas, espremer a laranja até a casca e sorver o suco mais oculto.Passamos tempo demais nos reduzindo a ser uma coisa só. Quero libertar os muitos fragmentos que me formam para que juntos eles comemorem. Quero uma união de vários eus e de eu nenhum. Se não der certo, fujo de mim mesmo pra viver numa folha de papel em branco dentro do livro mais misterioso que houver, até que me descubra novo, renascido a cada instante.E volto de vez em quando para contemplar o abismo, que não quero passar a vida toda pensando nessas coisas...   

2 comentários:

  1. Nossa xuxu...me sinto assim muitas vezes.
    Mas, quando quiseres sumir...lembre-se de Minas Gerais e venha me visitar!!!
    Saudade Guri.
    beijos

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  2. Também já estive assim muitas vezes... Já olhou Na Natureza Selvagem? É mais ou menos isso que já penssei em fazer. Sumir. Não sei, ms acho que eu pularia no abismo, mergulhando na tempestade e no mar bravio.

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