domingo, 19 de dezembro de 2010

sobre teias e braços da morte..

Estive pensando sobre a morte. Não há como ignorar. Ela está ali,a cada dia que passa. Passamos a morrer desde o nascimento. O Rubem Alves que é esperto. Sabe dizer o essencial. Falou que em nosso aniversário não fazemos anos. Desfazemos. A idade não é aquela dos anos que já se foram. E não deveríamos sorrir e sim chorar.Realizar um bruxedo em homenagem aos anos que virão. O mais interessante é que os anos que realmente temos ninguém sabe. São constituídos por aqueles que nos foram significativos. E por aqueles que ainda restam por viver. A morte tenho como uma amiga. Que não me venha brusca. Não quero que me arranque deste mundo sem aviso prévio. Que possa desfrutar de certa preparação. Que eu possa estender um ritual, construir um altar com a beleza da asa de um beija-flor e a intensidade das penas em chamas de uma fênix em pleno voo. Se deixarei de existir, quero que as coisas que amo estejam próximas. Que seja um dia calmo, ou chuvoso. E que as cinzas de meu corpo sejam jogadas ao mar para fazer parte das ondas, da poesia contida na leve brisa a brincar com a areia num amor pleno. Que as aves voem como nunca, não por mim, mas para lembrar que as asas carregam um pouco de eternidade consigo. E que as nuvens tracem os desenhos repletos de amores e arrebatamentos. E eu nem terei morrido. A vida pulsará como nunca inebriando aos poucos com seu poder de esquecimento. Não quero que minhas lembranças sobrevivam.Elas irão para o mundo das coisas que não existem para passar a significar algo maior. Que as pessoas e coisas que amei continuem a viver de braços dados com a morte, para que ela lhes seja companheira.E quando for cumprir seu papel, que venha como um abraço suave, em câmera lenta, que aos poucos vem pré-meditando o abismo e o vazio que virão. Não sei o que vem a seguir. De vida eu entendo. E das coisas que faço para deixar um pouco de mim nos lugares que conheci. Não me importa a morte, não receio o seu abraço. O diabo é ter que deixar de existir ...


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